São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O Partidão vive
CESAR MAIA
"Depende da velocidade em que se dará essa acumulação de forças e do grau de consciência com que o proletariado, os intelectuais e a classe média entenderão esse processo", respondeu. "E os deputados que estão contra isso tudo?", insisti. Mais uma vez, respondeu prontamente: "É uma pequena burguesia radicalizada que, sem consciência, faz o jogo da reação." "Então" -devolvi, provocando- "as medidas adotadas em relação a eles fazem valer o centralismo democrático?" "Exatamente, o centralismo democrático" -rebateu. "E se esse processo avançasse com uma grande velocidade, para onde iríamos?", perguntei. Ele não pestanejou: "Aprendemos muito com o socialismo real e, agora, não cairemos nos erros dirigistas de um Estado centralizador." E, agregando novas formulações, afirmou: "Vamos para uma sociedade participativa, distribuidora e desenvolvimentista, que garanta a hegemonia do trabalho estimulando o capital produtivo, impondo disciplina ao capital especulativo nacional e estrangeiro". Minha vontade era continuar conversando, mas, finalmente, ouvimos a última chamada para o avião que faria a conexão entre o vôo internacional de que eu vinha e o Rio de Janeiro. No período entre o taxiamento do avião em Guarulhos e a entrada no "finger" do Galeão, voltaram à minha memória, cada vez mais nítidos, os mesmos fatos, o mesmo raciocínio, a mesma teoria, a mesma argumentação e a mesma linguagem dos muitos e gloriosos 40 anos passados. Bem -pensei-, o que a imprensa chama de radicais do PT são os revolucionários de ontem, ou a pequena burguesia radicalizada, a dissidência sobre a qual cabe ao comitê central baixar o centralismo democrático e a exclusão. Então, estes meses, este ciclo inaugural do governo, impõem medidas táticas proporcionais à correlação de forças e fazem parte daquela etapa nacional-democrática. Depois, virá uma etapa -lembrei-me do "sino-jargão" da época- popular e democrática. O avião descia e eu não conseguia concluir se o que meu interlocutor disse era representativo do governo ou não. Então me lembrei do ministro flagrado pela TV, da concordância induzida de tantos parlamentares do PT e de um comentário recente feito por um dos gestores do Fome Zero sobre estar no governo e no poder. Passei pelo túnel de saída do avião como se fosse o do tempo e disse para um secretário que me esperava: "Puxa, tomara que a correlação de forças atual não mude por muito tempo". "O quê?", respondeu ele, sem entender. Falei um pouco mais alto: "O Partidão vive!" "O quê?", repetiu. "Deixa pra lá... vamos às malas." Cesar Epitácio Maia, 57, economista, é prefeito, pelo PFL, do Rio de Janeiro. Foi prefeito da mesma cidade de 1993 a 1996. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Eduardo Suplicy: Democracia e paz no Iraque Índice |
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