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A letargia continua
Polarização volta a paralisar a CTNBio, prolongando a indecisão sobre uma tecnologia agrícola promissora
O
SETOR de biotecnologia
agrícola e a comunidade científica comemoraram cedo demais a
aprovação e a regulamentação da
nova Lei de Biossegurança (nš
11.105), em março e novembro
do ano passado.
Pareceu a todos, então, que a
querela dos organismos geneticamente modificados -OGMs,
também conhecidos como transgênicos- finalmente seria objeto de decisões transparentes e
racionais, após mais de sete anos
de controvérsia paralisante. A
Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio), órgão
regulador do Ministério da Ciência e Tecnologia, sairia da letargia imposta pela polarização entre ambientalistas e biotecnólogos para começar a limpar a pauta de centenas de processos, entre eles vários pedidos de licenciamento para a polêmica liberação de OGMs no ambiente.
Um erro de avaliação, sabe-se
hoje. Só houve até agora decisão
em alguns processos de importância menor. Em cinco reuniões
da CTNBio sob a égide da Lei
11.105, nada se decidiu sobre o
que importa: autorizações para
experimentos ou cultivo comercial de transgênicos ao ar livre.
Uma nova reunião ordinária
da comissão está marcada para
este mês. Na pauta, nada menos
que 225 itens, dos quais 80 contemplam estudos e pesquisas.
Outros 42 pedidos do mesmo tipo e 11 de liberação comercial
-os mais controversos- aguardam a vez. Mas é improvável que
alguma coisa se decida.
A CTNBio prossegue paralisada pelo mesmo conflito que a envenena desde a origem. De pouco
serviu, até o presente, sua ampliação para um total de 27
membros, na esperança de aumentar-lhe a representatividade
e apagar a imagem de mero órgão
homologador. Tampouco parece
ter surtido efeito a elevação do
quórum para aprovação de liberações comerciais, hoje de 2/3.
Na última reunião, a maioria
pró-biotecnologia da CTNBio
reagiu negativamente à inédita
presença de uma representante
do Ministério Público Federal,
que já emitiu pareceres contrários a decisões de alcance ambiental pela comissão. Esse é o
verdadeiro ponto de discórdia.
A próxima batalha se travará,
anuncia-se, em torno de uma variedade de algodão transgênico.
A CTNBio licenciou seu plantio
comercial em março do ano passado, quando a lei nš 11.105 estava aprovada, mas não regulamentada. O Ministério do Meio
Ambiente, que tem assento na
comissão, pleiteia que a decisão
seja revista, abrindo nova crise.
A presença de um procurador
nas reuniões, se tem amparo legal, não pode e não deve ser tomada como uma afronta pelos
membros da CTNBio. Ao contrário, dará ainda mais transparência às suas decisões amparadas
no melhor conhecimento técnico. Caso represente mais uma
manobra tática da parte sistematicamente vencida nas votações,
merece pleno repúdio.
A Lei de Biossegurança foi modificada para fazer a comissão
funcionar e decidir o que precisa
ser decidido, não para dar aos adversários da biotecnologia novos
pretextos e manter todo um setor de ponta da agricultura refém
da incerteza e da irresolução.
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