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KENNETH MAXWELL
A arma carregada
ENTRE OS documentos secretos obtidos pelo jornal "Valor" nos termos da Lei de Liberdade de Informações dos EUA,
além do telegrama sobre Dilma
Rousseff, que discuti na semana
passada, há outra mensagem digna
de nota: um telex da secretária de
Estado Condoleezza Rice à Embaixada dos EUA em Brasília, fornecendo um relato detalhado de seu
encontro com José Dirceu em 3 de
março de 2005. A intenção era de
que todo o texto fosse censurado.
No entanto, ele foi liberado na íntegra, inadvertidamente, e está disponível como documento E 144 em
www.valoronline.com.br/PDF/20050307Washington.pdf.
Em uma discussão privada, sem
a presença de assessores, Dirceu e
Rice trataram da Venezuela. "Em
resposta ao comentário da secretária de que o Brasil precisa enviar
uma mensagem franca ao presidente venezuelano Chávez, Dirceu
afirmou que Lula já havia aconselhado Chávez a ser mais cauteloso
em sua retórica (dizendo a Chávez
que ele estava "brincando com uma
arma carregada') e que deveria se
concentrar em prioridades econômicas e sociais. Ele acrescentou
que o Brasil não acreditava que
Chávez estivesse apoiando as
Farc".
Bem, nesta semana, Chávez, tardiamente, decidiu acatar o conselho de Lula. Isso aconteceu provavelmente como resultado da discreta ameaça da Colômbia quanto
à liberação dos detalhes completos
de outro conjunto de documentos
secretos: aqueles que foram encontrados em laptops das Farc depois
que a Colômbia atacou e matou
Raúl Reyes, um dos comandantes
da organização, em uma incursão
aérea e de comandos ao território
equatoriano, em abril. Não parece
haver dúvida de que as informações obtidas pelos colombianos
nesses laptops sobre o apoio
financeiro e militar da Venezuela
às Farc são corretas, a despeito das
continuadas negativas venezuelanas.
Mas uma coisa fica clara: nesta
semana, Chávez recuou dramaticamente de seu papel como partidário político proeminente da
idéia de que as Farc deveriam ser
reconhecidas como força legítima.
Em resposta à queda de diversos
comandantes das Farc e à morte de
seu veterano líder Maruel Marulanda, bem como à captura, por
tropas colombianas e em território
da Colômbia, de um oficial da guarda nacional venezuelana que carregava 40 mil cartuchos de fuzis de
assalto AK-47 destinados às Farc,
Chávez diz agora que as Farc deveriam abandonar a guerrilha.
A posição menos beligerante de
Chávez oferece o potencial de um
resultado diplomático muito positivo: a libertação dos reféns que sofrem há tanto tempo nas mãos das
Farc, entre os quais Ingrid Betancourt. É uma esperança.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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