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CARLOS HEITOR CONY
Obama e o sonho
RIO DE JANEIRO - Compreendo
mas não participo da euforia provocada pela candidatura do Barack
Obama à Presidência dos Estados
Unidos pelo Partido Democrata.
Não acredito que o governo da nação mais poderosa do mundo seja
melhor ou mais simpático pelo fato
de ser liderado por um negro com
idéias liberais e uma biografia interessante e, até onde sabemos, digna
de respeito.
O fator racial não deveria contar.
Tivemos brancos como Hitler e Stálin, amarelos como Mao, negros como Idi Amin Dada e François Duvalier, todos foram ditadores sanguinários. Cor da pele não deveria significar medida de valor, nem para o
bem, nem para o mal.
Agora, não deixa de ser simpática
a idéia de a grande nação ser governada por um negro que, há apenas
40 anos, talvez não pudesse se sentar nos mesmos bancos dos ônibus
em que os brancos se sentavam.
Com ascendência africana, de formação não-cristã, num país em que
80% são cristãos, ele não poderia
usar os banheiros públicos destinados aos "Wasp" - os brancos, anglo-saxônicos e protestantes. Seus
filhos não poderiam freqüentar as
melhores escolas e universidades.
Neste particular, a indicação de
Obama deve ser saudada não por
ser um candidato melhor do que os
demais, mas por representar a superação de um preconceito racial
injustificável que perdurou até o
fim dos anos 60 do século passado.
No famoso discurso "I have a
dream", de Martin Luther King, ele
sonhava com uma sociedade igualitária e justa, sem discriminação racial. Não exatamente com um governo presidido por um negro.
Mesmo assim, foi assassinado pelo
ódio de um branco enlouquecido.
A indicação de Barack Obama indica uma gigantesca e saudável mudança na sociedade norte-americana. Mas nenhuma garantia de que
ele será melhor do que os outros.
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