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CLÓVIS ROSSI
O meu voto (inútil) para 2010
SÃO PAULO - Antonio Estella,
professor de direito da Universidade Carlos 3º, de Madri, faz, para "El
País", uma bela análise sobre "o paradoxo de que a direita ganhe as
eleições europeias após naufragar o
neoliberalismo", que é ou era o seu
navio-insígnia.
O paradoxo talvez se explique pelo fato de que a esquerda aplica as
políticas da direita em praticamente todos os países europeus. Vale
para o Brasil também, em especial o
seguinte trecho do artigo: "Se você
quer continuar mantendo-se no
poder, faça o que seu concorrente
fazia de maneira bem-sucedida e, se
possível, de forma melhor".
De alguma maneira, foi o que Lula fez: manteve o controle da inflação, iniciativa do antecessor e fonte
primeira de prestígio dos governantes, e ampliou enormemente os
programas sociais do tucanato.
Todas as pesquisas mostram que
esse tipo de comportamento funciona, do ponto de vista do prestígio
do governante.
O problema começa quando se
tem a ambição de promover transformações estruturais, que era não
tão antigamente assim o navio-insígnia da esquerda.
Na Europa, escreve Estella, "é
mais difícil encontrar partidos social-democratas que de fato tenham uma agenda de mudança própria, estejam intimamente convencidos dela e dispostos a desenvolvê-la, levando em conta as limitações
existentes".
Suspeito que valha para o Brasil,
por mais que, do meu ponto de vista, esteja esgotada ou perto do esgotamento a agenda da estabilidade
que foi o forte dos quatro períodos
presidenciais mais recentes.
O período 2011/14 pediria acoplar a essa agenda, que é permanente, um desenvolvimento econômico, social e ambiental muito mais
forte e muito mais transformador.
É uma pena que ambição não seja
o forte do político brasileiro -nem,
de resto, do eleitorado, extremamente conservador.
crossi@uol.com.br
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