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Editoriais
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O Irã vai às urnas
SE AS eleições presidenciais
do Irã sempre atraem atenção internacional, a de hoje
é especial. Seu resultado -que
poderá depender de um segundo
turno, a ser travado na próxima
sexta- será importante, embora
não decisivo, para o ambicioso
projeto de pacificação do Grande
Oriente Médio acalentado pelo
governo Barack Obama.
Está em jogo a continuidade do
mandato de Mahmoud Ahmadinejad, o político nacionalista que
derrotou o reformismo em 2005
e revigorou o apoio popular ao
programa da linha dura, que controla o regime xiita há 30 anos.
Seu principal adversário hoje é o
ex-premiê Mir Hossein Mousavi,
que tenta retomar a Presidência
para os moderados.
A estridência das reações de última hora de Ahmadinejad denuncia que se sente ameaçado. A
oposição explora sobretudo o
efeito, na economia doméstica,
da violenta queda no preço da
energia: o Irã depende das exportações de petróleo e gás, que
respondem por 80% das receitas
do governo. A inflação chega a
24% ao ano. A taxa de desemprego supera 20% entre os jovens,
fatia crucial do eleitorado, pois
metade dos 73 milhões de iranianos tem menos de 25 anos.
O programa nuclear, tema que
galvaniza as atenções internacionais, também entrou no debate. Os principais candidatos se
declaram a favor do projeto, que
o regime alega, contra evidências
em contrário, destinar-se apenas
a fins pacíficos. Mas a ala reformista não deixa de atacar Ahmadinejad a propósito de um aspecto da política externa: acusa-o
de, com suas declarações provocativas e irresponsáveis, contribuir para a degradação da imagem internacional do país persa.
Os moderados dificilmente difundiriam esta crítica sem a convicção de que é ao menos tolerada no círculo do aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do país. O
clérigo xiita dá as principais cartas no Irã: decide as questões de
Estado mais importantes, tutela
as Forças Armadas e o Judiciário
e nomeia metade do Conselho de
Guardiães, órgão que tem poder
de veto sobre leis aprovadas no
Parlamento e sobre candidatos a
cargos eletivos.
Se a retomada das relações entre Washington e Teerã depende
sobretudo da linha dura religiosa, encabeçada pelo aiatolá, uma
derrota de Ahmadinejad facilitaria as coisas. Seria um erro, contudo, subestimar as chances de
reeleição do líder populista.
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