São Paulo, sexta-feira, 12 de junho de 2009

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Editoriais

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O Irã vai às urnas

SE AS eleições presidenciais do Irã sempre atraem atenção internacional, a de hoje é especial. Seu resultado -que poderá depender de um segundo turno, a ser travado na próxima sexta- será importante, embora não decisivo, para o ambicioso projeto de pacificação do Grande Oriente Médio acalentado pelo governo Barack Obama.
Está em jogo a continuidade do mandato de Mahmoud Ahmadinejad, o político nacionalista que derrotou o reformismo em 2005 e revigorou o apoio popular ao programa da linha dura, que controla o regime xiita há 30 anos. Seu principal adversário hoje é o ex-premiê Mir Hossein Mousavi, que tenta retomar a Presidência para os moderados.
A estridência das reações de última hora de Ahmadinejad denuncia que se sente ameaçado. A oposição explora sobretudo o efeito, na economia doméstica, da violenta queda no preço da energia: o Irã depende das exportações de petróleo e gás, que respondem por 80% das receitas do governo. A inflação chega a 24% ao ano. A taxa de desemprego supera 20% entre os jovens, fatia crucial do eleitorado, pois metade dos 73 milhões de iranianos tem menos de 25 anos.
O programa nuclear, tema que galvaniza as atenções internacionais, também entrou no debate. Os principais candidatos se declaram a favor do projeto, que o regime alega, contra evidências em contrário, destinar-se apenas a fins pacíficos. Mas a ala reformista não deixa de atacar Ahmadinejad a propósito de um aspecto da política externa: acusa-o de, com suas declarações provocativas e irresponsáveis, contribuir para a degradação da imagem internacional do país persa.
Os moderados dificilmente difundiriam esta crítica sem a convicção de que é ao menos tolerada no círculo do aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do país. O clérigo xiita dá as principais cartas no Irã: decide as questões de Estado mais importantes, tutela as Forças Armadas e o Judiciário e nomeia metade do Conselho de Guardiães, órgão que tem poder de veto sobre leis aprovadas no Parlamento e sobre candidatos a cargos eletivos.
Se a retomada das relações entre Washington e Teerã depende sobretudo da linha dura religiosa, encabeçada pelo aiatolá, uma derrota de Ahmadinejad facilitaria as coisas. Seria um erro, contudo, subestimar as chances de reeleição do líder populista.


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