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DINHEIRO E ELEIÇÕES
A cada vez que é publicado o balanço de despesas das campanhas eleitorais impressiona a disparidade entre os gastos declarados entre os candidatos. Foi assim na última eleição
presidencial, quando o comitê de
Fernando Henrique Cardoso declarou despender recursos quase 12 vezes superiores aos de Luiz Inácio Lula da Silva. Reportagem da Folha publicada domingo passado mais uma
vez confirma tal desigualdade, agora
em relação a campanhas para o Congresso e para o governo dos Estados.
A igualdade de condições da disputa é prejudicada e assim a democracia, para não falar de outros inconvenientes do abuso de dinheiro na política. São várias as denúncias de promiscuidade entre eleitos e aqueles
que compuseram os caixas de campanha. Ou a corrupção direta do eleitor. O deputado Inocêncio Oliveira
(PFL-PE) observou certa vez que, "em
Pernambuco, quem tiver R$ 800 mil
compra um mandato. Compra 40 mil
votos a R$ 20 cada. Gente para comprar tem. O que não tem é dinheiro".
A desigualdade de recursos nas
campanhas afeta mesmo, e muito,
democracias como a norte-americana. As soluções não são triviais, muito menos aquela que sempre é aventada quando se pensa em reforma
política ou quando os balanços eleitorais suscitam indignação: o financiamento público de campanhas.
Financiar partidos e candidatos
com dinheiro público tende a aumentar o problema. A medida não
funcionaria em princípio porque demanda outras reformas do sistema
eleitoral e partidário. Não funcionaria na prática, pois no Brasil o caixa-dois e a sonegação são costumes
que vicejam devido à incompetência
na fiscalização ou à corrupção de fiscais. Mesmo líderes políticos ouvidos pela Folha reconhecem que a informalidade, por assim dizer, nas
doações a políticos ainda é grande.
Para quem queira pelo menos cogitar a implantação do financiamento
estatal nas eleições, há uma extensa
agenda de providências a tomar. Há
que aperfeiçoar o sistema de representação, adotando talvez algo como
o voto distrital misto, e acabar com
partidos de aluguel, por exemplo. É
preciso reduzir os limites de gastos
dos candidatos e de financiadores e
provar que tais restrições podem ser
devidamente controladas. Se fosse
possível implementar tais reformas,
haveria substancial melhora nas condições da disputa política e talvez o
financiamento público se tornasse
mesmo uma questão menor.
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