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JOGADOR SEM CACIFE
A diplomacia do Brasil acenou nos
últimos anos com a imagem do país
"global trader", ator comercial global, com parceiros diversificados,
portanto menos vulnerável. Na prática, a tese não tem sido confirmada.
É verdade que o comércio exterior
brasileiro é distribuído entre as Américas, a União Européia e a Ásia. Os
europeus, aliás, têm mais peso no
comércio exterior brasileiro que os
Estados Unidos. Mas, infelizmente,
os supostos efeitos positivos dessa
diversificação ainda não são visíveis.
Teoricamente, um país de mercado
consumidor grande, que atrai negócios de todo o mundo, poderia encarar cada um dos parceiros externos
com vantagem. Poderia jogar os interesses de uns contra os de outros.
É nesse contexto que ganham sentido o projeto do Mercosul e a aproximação com a União Européia. Seriam freios ou contrapesos a pressões dos EUA, por exemplo.
Na prática, o Brasil tem feito cada
vez mais concessões a todos os blocos, sem exigir as devidas contrapartidas. E, como se não bastasse o
bom-mocismo, volta e meia recebe
como recompensa restrições comerciais ou retaliações dos parceiros.
A União Européia, por exemplo, há
anos manifesta apoio retórico ao
Mercosul. Mas mantém elevadas barreiras a produtos agrícolas brasileiros e, agora, a França está colocando
em risco o início de conversações da
comissão executiva da União Européia com o Mercosul.
Os EUA não deixam por menos.
Além das repetidas pressões para
que a abertura comercial brasileira
continue, custe o que custar, os EUA
acabam de obter do Brasil uma limitação às exportações de aço. Isso numa questão que poderia ter sido levada pelo Itamaraty ao foro da OMC.
O Brasil, sem explorar devidamente
a suposta vantagem estratégica da diversidade de parceiros, há anos celebrada pelo Itamaraty, é um "global
trader" apenas nos indicadores de
distribuição do comércio. Resiste
pouco às pressões dos países ricos.
Pior: resiste cada vez menos.
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