São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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Campanha do agasalho

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

O ano de 1999 é especialmente dedicado a Deus Pai, na sequência da preparação ao Grande Jubileu que nos introduz no novo milênio. É também "ano da caridade". Filhos do mesmo Pai misericordioso, precisamos intensificar os laços de fraternidade vencendo barreiras, distâncias e ressentimentos. Daí a importância da reconciliação, sem a qual o mundo continuará marcado por conflitos e vinganças.
A notícia alvissareira da paz em Kosovo requer o aprendizado do perdão e a capacidade de reconstruir a concórdia entre raças e povos que se hostilizavam e destruíam.
A atitude de estima e respeito pelo próximo não se improvisa. Supõe longa educação para a convivência numa sociedade pluralista, esforço para corrigir as próprias faltas, tolerar as limitações do próximo e fazer gestos concretos de solidariedade. Hoje é ainda maior a necessidade desses gestos. O ambiente em que vivemos está impregnado de egoísmo. Somos capazes de gastar dinheiro com coisas supérfluas e esquecer que muita gente passa fome e frio. Cada um pensa apenas em si mesmo.
Enquanto procuramos encontrar soluções mais abrangentes para o drama do desemprego e da miséria, vamos nos empenhar em socorrer as pessoas carentes nestes meses de inverno rigoroso em várias regiões do Brasil.
Com o lema bíblico "Eu estava com frio e você me socorreu" (MT 25,36), acaba de ser lançada na capital paulista a Campanha do Agasalho, respondendo ao apelo do arcebispo dom Cláudio Hummes. Essa iniciativa tem por finalidade ir ao encontro das pessoas necessitadas, oferecendo-lhes não só a defesa contra o frio, mas o testemunho da caridade fraterna. A campanha inclui, também, a intenção de articular melhor a colaboração das comunidades nas emergências, valorizando o voluntariado e as pastorais sociais. Haverá mensagens em jornais, rádios e na TV. A convocação se estende a paróquias, colégios, movimentos e grupos de boa vontade.
A campanha está a cargo da "Caritas Arquidiocesana de São Paulo", em cuja sede (rua Venceslau Brás, 78; tel. 011/3104-4055) poderão ser encontrados cartazes de divulgação e informações. Os agasalhos que não forem distribuídos às pessoas carentes nas próprias comunidades serão enviados às paróquias mais necessitadas e aos abrigos do povo da rua.
Há poucos meses, o Arsenal da Esperança, que acolhe, na cidade de São Paulo, no Brás (rua Almeida Lima, 900), cerca de mil homens durante a noite, recebeu da Itália toneladas de agasalhos e roupas, fruto da arrecadação de milhares de jovens do Servizio Missionario Giovani (Sermig), de Turim, fundado por Ernesto Olivero. Doação semelhante os mesmos jovens enviaram para as áreas de inverno rígido em Ouro Preto, Mariana, Barbacena e arredores.
Esses gestos de solidariedade ajudam não só a quem recebe, mas a quem dá.
Fazem-nos sair do pequeno mundo em que vivemos, abrir o coração para o sofrimento alheio e experimentar a alegria de ajudar o próximo.
Pergunto, com simplicidade: será que os agasalhos e as cobertas que muitos de nós temos não ficariam melhor acalentando irmãos carentes do que dobrados e guardados com naftalina em armários de nossas casas? Vale para nós a palavra de Jesus: "Eu estava com frio e você me socorreu".


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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