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Café requentado
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - É o que dá um mandato requentado como o de FHC. Tudo é requentado -são os próprios
aliados do governo que se apegaram à
idéia de que tudo o que está acontecendo é velharia. Os grampos do
BNDES, por exemplo, são café requentado, pois desde novembro do ano
passado se falava neles.
Se surgirem novas provas da compra
de votos para a reeleição, o argumento
já está pronto: há mais de dois anos se
falou nisso, não passa de café requentado.
O mesmo será dito do Sivam, da Pasta Rosa, dos escândalos que pipocaram e continuam pipocando por aí.
Tudo velharia, tudo anterior à Primeira Guerra Púnica. O caso mais recente é o da nomeação do novo chefe
da Polícia Federal, acusado de ser torturador ou cúmplice da repressão durante o regime militar.
O governo classificou o assunto como café requentado. Digamos que
amanhã ou depois, na afobação de
sair de um problema para criar outro,
FHC nomeie o capitão Wilson (o do
Riocentro) para o cargo de ministro
da Cultura -se houver pressão da base aliada, ele é capaz de coisas assim.
Evidente que, tirante os colunistas
amigos do poder, que elogiarão o ato
como a mais recente e fulminante manifestação da sabedoria presidencial,
haverá grita na imprensa. Como? Nomear ministro da Cultura um oficial
que ia jogar uma bomba num show de
música popular, matando centenas de
jovens?
Sabem-se de antemão a resposta e a
desculpa: "Não há provas definitivas
desse atentado, os indícios são de fonte suspeita, prevalece a versão oficial
feita pelas autoridades competentes
que inocentam o ex-capitão. No mais,
é um assunto velho. Café requentado".
Ainda bem que é improvável a ressurreição dos mortos. Caso contrário,
PC Farias ainda seria nomeado para o
Banco Central. E se alguém reclamasse, alegando que PC Farias havia
mantido um esquema de roubo e suborno, FHC diria ou mandaria alguém dizer que se tratava de café requentado.
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