São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COLCHA DE RETALHOS

Ao mesmo tempo em que emite sinais de vigor, com a atração de novos associados e a condução de negociações relevantes, como as que estão em curso com a União Européia, o Mercosul passa por uma série de turbulências. Certamente que a adesão da Venezuela e a aproximação do México contribuem para aumentar o peso do bloco, abrindo novas perspectivas comerciais. No caso mexicano, trata-se do maior PIB da América Latina e de uma economia cujo perfil sugere um rico potencial para o incremento do comércio na região, notadamente com o Brasil.
Esses avanços, no entanto, não ofuscam a evidência de que o Mercosul continua sendo marcado por precariedades e contradições, que se têm manifestado com maior nitidez nas relações entre os dois principais parceiros, o Brasil e a Argentina.
As seguidas salvaguardas impostas pelo país vizinho para proteger seus interesses chegaram ao paroxismo com as restrições às importações de eletrodomésticos do Brasil. A medida, a exemplo de outras anteriores, foi anunciada unilateralmente e serviu para acirrar os ânimos do empresariado brasileiro. De fato, as constantes concessões aos pleitos argentinos já não contam mais com a compreensão do setor produtivo nacional. Por mais que se apresentem argumentos, o que se tem verificado é uma rotina de quebra de regras em prejuízo das empresas brasileiras.
O caso dos eletrodomésticos foi uma espécie de "gota d'água", um sinal enfático de que a institucionalização do bloco tem de avançar. É preciso que os processos decisórios sejam mais previsíveis, com a consolidação de normas claras e instâncias encarregadas de dirimir os conflitos.
Mais do que isso, urge um esforço com vistas a coordenar minimamente as políticas cambiais, monetárias e fiscais dos países-membros, além de estabelecer estratégias industriais e comerciais comuns. Caso contrário, o Mercosul estará condenado a ser uma colcha de retalhos, e não um verdadeiro bloco econômico.


Texto Anterior: Editoriais: BAIXAR OS JUROS
Próximo Texto: Editoriais: IBIRAPUERA POLUÍDO

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.