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Sangria interminável
O saldo mais provável do caso dos sanguessugas é o coroamento de uma das piores legislaturas das últimas décadas no Brasil
ATÉ O início desta semana, as suspeitas em torno da máfia dos sanguessugas tinham como fundamento o depoimento
de uma única testemunha -a ex-assessora do Ministério da Saúde
Maria da Penha Lino, responsável pela acusação de que centenas de parlamentares estariam
envolvidos num esquema fraudulento de venda de ambulâncias para prefeituras. Em curso
há oito dias e passível de estender-se ainda mais, o depoimento
do empresário Luiz Antônio Vedoin na 2ª Vara Federal de Cuiabá traz elementos capazes de dar
novo rumo às investigações.
Vedoin é um dos sócios da Planam, empresa responsável pela
intermediação entre as prefeituras e os deputados. Ele não apenas confirmou o esquema como
apresentou provas de pagamento de propina a mais de 60 parlamentares em troca da aprovação
de emendas para liberação da
compra de ambulâncias.
Preso desde o mês de maio e
incentivado pelo programa de
"delação premiada", o empresário não é figura isenta no processo. Mas as informações que pode
prestar representam um passo
decisivo para definir a fisionomia do esquema. Estão em jogo
delitos como lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa, formação de quadrilha e crime contra a Lei de Licitações.
De acordo com a Polícia Federal, as operações criminosas movimentaram R$ 110 milhões desde 2001 -a fatia partilhada entre
os beneficiados variava entre
10% a 15%. Mas o número de
congressistas ainda era uma incógnita: uma das acusações chegou a envolver 283 nomes, e desde então diversas cifras foram
aventadas, todas sem substância.
Com o fim do depoimento do
empresário e a submissão das
provas à CPI dos Sanguessugas,
estarão reunidos pela primeira
vez os elementos necessários ao
esclarecimento efetivo do caso.
É pouco provável, contudo,
que isso ocorra. Ao menos por
parte das CPIs. Elas têm se caracterizado mais pelo jogo de cena -útil, sem dúvida, para manter as apurações em evidência e
reforçar a necessidade de cobrança- do que pela concretude
das investigações e das conclusões. As absolvições em que culminaram as apurações sobre o
caso do mensalão são retrato eloqüente da impunidade que impera no Congresso. E o quadro
piora diante do calendário de
2006: com o início da campanha
eleitoral, as prioridades se invertem e a praxe é protelar tudo que
não diga respeito às eleições.
O saldo mais provável do episódio dos sanguessugas será simbólico: contribuir para o coroamento de um dos piores períodos legislativos desde a redemocratização. Nos últimos quatro
anos, deputados e senadores foram pródigos em contribuir para
a impressão de generalidade da
corrupção e para o descrédito do
Congresso como instituição.
Ao lado de "mensalão", "mensaleiro" e "valerioduto", "sanguessuga" é um acréscimo valioso ao léxico político dos últimos
anos. Ele sintetiza, talvez com
mais precisão vernacular do que
todos os outros, o ponto a que
chegou a imagem da representação parlamentar no país.
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