São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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A força do dogma

HÁ DUAS formas de ler o novo documento divulgado pela Santa Sé no qual o Vaticano reafirma que a Igreja Católica é a única verdadeira: como um golpe contra os esforços em prol do ecumenismo dos últimos 40 anos ou como um avanço rumo à tolerância e ao reconhecimento de outras crenças.
O paradoxo se explica pela longevidade da Igreja Católica. Não há dúvida de que, tomando-se como referência o "hic et nunc" (aqui e agora), é a primeira interpretação que se impõe.
É claro que o papa, na condição de chefe de todos os católicos, precisa acreditar que o catolicismo é superior aos outros credos. O problema é reafirmar essa convicção a todo instante, como um dogma e no contexto de conversações com representantes de outras religiões em busca de pontos em comum.
O gesto hostil tampouco chega a ser uma surpresa. Em setembro de 2006, Bento 16 enfureceu muçulmanos ao afirmar que o islamismo era uma religião violenta. Em março passado, qualificou o segundo casamento como uma "praga" e, em maio, em passagem pelo Brasil, disse que a evangelização das Américas não foi uma imposição de cultura alheia.
O documento divulgado anteontem, intitulado "Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a igreja", explicita a epístola "Dominus Iesus" (2000), concebida por Ratzinger quando era chefiava a Congregação para a Doutrina da Fé. Ali o Vaticano diz que quem não acata a "verdade" como interpretada pela Igreja Católica está em sérios apuros teológicos, "in statu gravis penuriae".
A forma como "Dominus Iesus" coloca a questão é até diplomática, pois admite a possibilidade de graça para os não-católicos, ainda que "objetivamente" menor do que para o católico.
De uma perspectiva neutra, no entanto, é preciso registrar que qualquer igreja tem, como o catolicismo, o direito de proclamar-se "a única verdadeira". Daí advêm os conflitos religiosos.


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