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A força do dogma
HÁ DUAS formas de ler o novo documento divulgado
pela Santa Sé no qual o
Vaticano reafirma que a Igreja
Católica é a única verdadeira: como um golpe contra os esforços
em prol do ecumenismo dos últimos 40 anos ou como um avanço
rumo à tolerância e ao reconhecimento de outras crenças.
O paradoxo se explica pela longevidade da Igreja Católica. Não
há dúvida de que, tomando-se
como referência o "hic et nunc"
(aqui e agora), é a primeira interpretação que se impõe.
É claro que o papa, na condição
de chefe de todos os católicos,
precisa acreditar que o catolicismo é superior aos outros credos.
O problema é reafirmar essa
convicção a todo instante, como
um dogma e no contexto de conversações com representantes
de outras religiões em busca de
pontos em comum.
O gesto hostil tampouco chega
a ser uma surpresa. Em setembro de 2006, Bento 16 enfureceu
muçulmanos ao afirmar que o islamismo era uma religião violenta. Em março passado, qualificou
o segundo casamento como uma
"praga" e, em maio, em passagem
pelo Brasil, disse que a evangelização das Américas não foi uma
imposição de cultura alheia.
O documento divulgado anteontem, intitulado "Respostas a
questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a igreja", explicita a epístola "Dominus Iesus" (2000), concebida por
Ratzinger quando era chefiava a
Congregação para a Doutrina da
Fé. Ali o Vaticano diz que quem
não acata a "verdade" como interpretada pela Igreja Católica
está em sérios apuros teológicos,
"in statu gravis penuriae".
A forma como "Dominus Iesus" coloca a questão é até diplomática, pois admite a possibilidade de graça para os não-católicos, ainda que "objetivamente"
menor do que para o católico.
De uma perspectiva neutra, no
entanto, é preciso registrar que
qualquer igreja tem, como o catolicismo, o direito de proclamar-se "a única verdadeira". Daí
advêm os conflitos religiosos.
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