São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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KENNETH MAXWELL

Vacas voadoras

E M UM DOS MAIS queridos versos infantis ingleses, "a vaca pula por sobre a Lua". Recentemente, as vacas brasileiras também estão pulando, pelo menos em termos de "valor adicionado". E, em Wall Street, um verdadeiro estouro da boiada beneficia os papéis brasileiros. Mas a corrupção e os contos de fadas contadas em benefício próprio não se limitam ao Brasil.
Como explicar, de outra forma, o "banheirogate" argentino, caso que envolveu a localização de US$ 241 mil em dólares, euros e pesos no banheiro da ministra da Economia? Ou o México, onde US$ 150 milhões em dólares e outras moedas foram encontrados em valises na mansão de um empresário mexicano de ascendência chinesa? Ou o Brasil, onde os políticos persistem em conduzir negociatas pelo telefone a despeito do fato de que quase todos os escândalos de corrupção dos últimos anos terminaram revelados devido ao vazamento de conversações ou vídeos gravados de maneira clandestina?
Alguém se incomoda? Até o momento, aparentemente não. O presidente Lula continua bem posicionado nas pesquisas, com aprovação de 66%, de acordo com o mais recente levantamento. E, em Nova York, a Câmara de Comércio Brasil-EUA organizou evento com "especialistas das mais quentes empresas de Wall Street" para elogiar "o touro brasileiro". Eles alegaram que a economia do Brasil está se preparando para uma decolagem "capaz de se equiparar às da China e da Índia".
Mas cautela é muito necessária, quanto a isso. Não foram essas mesmas "empresas quentes" que inventaram o "lulômetro" para acompanhar o risco que Lula impunha aos mercados financeiros, nos meses anteriores à sua posse?
E líderes políticos não descobrem sempre que índices de popularidade podem cair mais rápido do que subiram, e geralmente o fazem?
Aliás, não são só escândalos brasileiros terminam em pizza. Vejam as revelações do londrino "Guardian" sobre o depósito de quase 1 bilhão nas contas do príncipe Bandar, ex-embaixador saudita nos EUA, no Rigg's Bank, de Washington. O dinheiro supostamente seria "produto" de aquisições de armas no valor de 43 bilhões da BAE, maior fabricante de armas britânicas, pelas Forças Armadas sauditas. O caso estava sendo investigado pelo Serious Fraud Office britânico, até que o governo Tony Blair suspendesse o inquérito alegando que continuá-lo "prejudicaria a segurança nacional". Afinal, não é fácil guardar bilhões de dólares em uma meia. Ao menos os políticos brasileiros até agora não justificaram seus delitos alegando que estavam protegendo o interesse nacional.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de Paulo Migliacci


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