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CARLOS HEITOR CONY
Suposições
RIO DE JANEIRO - Formadores
de opinião (entre os quais não me
incluo), sociólogos, psicólogos e outros entendidos que procuram explicar tudo foram unânimes em
condenar a ação policial no complexo de favelas do Alemão, da qual resultaram 20 e tantos cadáveres de
"supostos" traficantes.
Apesar da unanimidade das elites
culturais, o povão se manifestou a
favor da chacina, na base de 80%.
Não faz muito, quando houve o referendo sobre a proibição do fabrico e venda de armas, os mesmos entendidos sofreram um impacto. Davam como certa a aprovação da medida, mas o povão mais uma vez foi
contra, votando a favor da liberação
das armas.
Sempre ouvi dizer que a democracia é o regime político e social
cujo núcleo é a opção da maioria. Já
foi tempo em que a desculpa (ou a
explicação) para o confronto entre
o povão e as elites era simples: o povo não sabia votar. Quer dizer, saber, sabia, mas votava errado.
E tem mais: quase 90% dos cariocas desejam que a polícia faça novas
chacinas em outras favelas. E 54%
de uma população que sempre desconfiou da polícia pela primeira vez
admitiu, meio a contragosto, que
ela merece um crédito.
O argumento das autoridades locais é taxativo: guerra é guerra. E há
uma guerra de fato entre o Estado
legal e o crime que assumiu a condição de um Estado marginal. Como
se sabe, toda e qualquer guerra é
uma estupidez. E nem sempre o
vencedor é o lado certo.
De qualquer forma, sempre que
me informo pela mídia, fico sabendo que não há traficantes nem arsenais de armas ilegais. Há apenas supostos traficantes e supostos arsenais. Um jurista disse, há pouco, a
propósito de Renan Calheiros, que
ninguém pode ser julgado antes de
ter o processo respectivo passado
por todas as instâncias da Justiça.
O resto é suposição.
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