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Atraso no clima
Discussões sobre aquecimento global conhecem avanço diplomático, para o qual Brasil não contribuiu
SALVAR o planeta -para fazer uso de uma fraseologia dramática- constitui
um propósito ainda distante do horizonte das lideranças internacionais. Antes de incidir concretamente sobre as causas do aquecimento global, a
prioridade, por enquanto, é a de
salvar do colapso as próprias negociações a esse respeito.
Nesse sentido, o encontro entre líderes dos 17 maiores países
poluidores do mundo, realizado
nesta quinta-feira na cidade italiana de Áquila, representou um
avanço diplomático. Pelo menos
diante dos impasses registrados
nos dias anteriores, quando
países emergentes e as economias do G8 divergiram frontalmente quanto às metas de emissão de carbono.
Brasil, China, México, Índia e
África do Sul recusaram em bloco a proposta dos países mais ricos no sentido de reduzir em
50% as emissões globais. Nas palavras do presidente Lula, as economias em desenvolvimento
também querem, afinal, "subir
ao andar de cima". Talvez porque, admita-se a blague, constitua uma localização supostamente mais ventilada, e a salvo
da elevação dos níveis do mar.
Seja como for, o impasse entre
os países do G8 e os emergentes
foi contornado logo depois. Obteve-se um compromisso consensual, não com respeito às metas de emissões, mas sim quanto
ao objetivo de limitar a dois
graus centígrados o aquecimento do planeta em 2050, comparado às temperaturas que prevaleciam antes da era industrial.
Ainda que muito genérica, a
meta representa um passo inédito do ponto de vista diplomático,
uma vez que marca o fim das resistências norte-americanas a
qualquer consenso mínimo em
torno do efeito estufa. Reconhecendo que seu país havia deixado
de assumir responsabilidades
sobre o clima, o presidente Barack Obama declarou que essa
atitude fazia parte do passado.
Será? Mesmo entre parlamentares de seu partido, há forte
oposição a iniciativas mais ousadas no rumo da redução dos poluentes. Não há de ser menor,
sem dúvida, a disposição das economias desenvolvidas, em meio
à crise financeira, para prover os
países emergentes da indispensável ajuda tecnológica e econômica de que necessitam para
mudar seus padrões energéticos
e plantas industriais.
Contando com fontes de energia predominantemente "limpas", e com níveis de consumo
muito mais modestos do que os
americanos e europeus, o Brasil
se encontra numa posição estratégica e única nas discussões sobre aquecimento global.
A aliança do governo Lula com
países altamente poluidores como China e Índia se explica pelo
que pode trazer de pressão conjunta sobre os países desenvolvidos, com vistas a obter o auxílio
internacional de que sem dúvida
necessitam. Mas não deixa de ser
frustrante notar o quanto uma
visão atrelada ao conflito Norte-Sul diminui, neste caso, o vigor
de que poderia revestir-se a liderança brasileira num assunto de
máxima urgência e relevância.
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