São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

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Atraso no clima

Discussões sobre aquecimento global conhecem avanço diplomático, para o qual Brasil não contribuiu

SALVAR o planeta -para fazer uso de uma fraseologia dramática- constitui um propósito ainda distante do horizonte das lideranças internacionais. Antes de incidir concretamente sobre as causas do aquecimento global, a prioridade, por enquanto, é a de salvar do colapso as próprias negociações a esse respeito.
Nesse sentido, o encontro entre líderes dos 17 maiores países poluidores do mundo, realizado nesta quinta-feira na cidade italiana de Áquila, representou um avanço diplomático. Pelo menos diante dos impasses registrados nos dias anteriores, quando países emergentes e as economias do G8 divergiram frontalmente quanto às metas de emissão de carbono.
Brasil, China, México, Índia e África do Sul recusaram em bloco a proposta dos países mais ricos no sentido de reduzir em 50% as emissões globais. Nas palavras do presidente Lula, as economias em desenvolvimento também querem, afinal, "subir ao andar de cima". Talvez porque, admita-se a blague, constitua uma localização supostamente mais ventilada, e a salvo da elevação dos níveis do mar.
Seja como for, o impasse entre os países do G8 e os emergentes foi contornado logo depois. Obteve-se um compromisso consensual, não com respeito às metas de emissões, mas sim quanto ao objetivo de limitar a dois graus centígrados o aquecimento do planeta em 2050, comparado às temperaturas que prevaleciam antes da era industrial.
Ainda que muito genérica, a meta representa um passo inédito do ponto de vista diplomático, uma vez que marca o fim das resistências norte-americanas a qualquer consenso mínimo em torno do efeito estufa. Reconhecendo que seu país havia deixado de assumir responsabilidades sobre o clima, o presidente Barack Obama declarou que essa atitude fazia parte do passado.
Será? Mesmo entre parlamentares de seu partido, há forte oposição a iniciativas mais ousadas no rumo da redução dos poluentes. Não há de ser menor, sem dúvida, a disposição das economias desenvolvidas, em meio à crise financeira, para prover os países emergentes da indispensável ajuda tecnológica e econômica de que necessitam para mudar seus padrões energéticos e plantas industriais.
Contando com fontes de energia predominantemente "limpas", e com níveis de consumo muito mais modestos do que os americanos e europeus, o Brasil se encontra numa posição estratégica e única nas discussões sobre aquecimento global.
A aliança do governo Lula com países altamente poluidores como China e Índia se explica pelo que pode trazer de pressão conjunta sobre os países desenvolvidos, com vistas a obter o auxílio internacional de que sem dúvida necessitam. Mas não deixa de ser frustrante notar o quanto uma visão atrelada ao conflito Norte-Sul diminui, neste caso, o vigor de que poderia revestir-se a liderança brasileira num assunto de máxima urgência e relevância.


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