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EMÍLIO ODEBRECHT
Sobre o mau comportamento
O BRASILEIRO sempre foi tido como gentil, amável,
conciliador. Será que estamos mudando?
Essa pergunta se justifica por
comportamentos que venho observando em restaurantes, hospitais,
shopping centers, repartições públicas onde se vai para obter algum
documento etc.
São principalmente reações, as
quais têm me deixado surpreso e
preocupado.
Acho que precisamos ligar o sinal de alerta porque é cada vez
mais comum ver quem está ali para
atender tornar-se vítima do descontrole de pessoas mal-educadas,
agressivas até, situação que se torna mais evidente quando quem está do outro lado do balcão é um servidor público.
Não quero ser condescendente
com a incompetência, que precisa
ser eliminada com investimentos
na capacitação das pessoas por
parte de governos e empresas.
Mas considero inaceitável que o
despreparo e a desqualificação de
um trabalhador sejam motivo ou
justificativa para atitudes desrespeitosas por parte do usuário do
serviço ou consumidor de determinado produto. Reações desequilibradas não se justificam, e a perda
da calma quando o que se exige é
tolerância e compreensão revela
uma personalidade frágil. Ha quem
busque outras explicações -na crise, nas dificuldades momentâneas,
até em problemas pessoais. Mas
nada disso, também, pode dar guarida a tais comportamentos.
O pior e mais grave é que frequentemente os protagonistas
dessas atitudes condenáveis são
pessoas de nível educacional e poder aquisitivo visivelmente superiores aos daqueles a quem ofendem, os quais estão ali em busca da
sobrevivência, merecendo, portanto, respeito e ajuda, e não xingamentos e grosserias.
Por outro lado, não podemos esquecer que em empresas ou órgãos
de governo o atendente nem sempre é responsável pelos procedimentos que adota.
Lembro-me de um episódio
ocorrido em uma repartição pública em Salvador, em meados de 80.
Dezenas de pessoas esperavam a
vez de serem atendidas. A certa altura, alguém chega e o rapaz que
controlava a fila lhe dá passagem.
Depois de algum tempo, surge outro fura-fila, prontamente atendido. No terceiro, uma senhora resolve protestar e diz ao rapaz que vai
denunciá-lo a seus superiores.
A resposta vem pronta: acho bom,
porque são eles que mandam eu
fazer isso. Ou seja: na maioria das
vezes, os servidores estão cumprindo ordens.
Acho importante refletirmos sobre isso, porque, se a quem serve
cabem dedicação e bom senso, o
autocontrole e a paciência são virtudes de quem compreende e sabe
dar valor ao ato de servir -não apenas ao de ser servido.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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