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Desindustrialização
É preciso deixar de lado a resignação com que muitos acompanham a preocupante perda de peso da produção industrial na economia
O aumento do ritmo de expansão do PIB brasileiro desde 2007
não pode obscurecer análises
mais cuidadosas sobre fragilidades e riscos presentes na economia. Um aspecto importante é a
provável perda de terreno por parte da indústria, fenômeno que parece estar em curso, apesar de encoberto pela força da demanda interna, que estimula o crescimento.
Algumas evidências são preocupantes: menor participação no
PIB, baixa inovação tecnológica,
mau desempenho nas exportações (muito aquém da média internacional, particularmente após
a crise) e perda de mercado interno para produtos importados em
áreas importantes, como as de
bens intermediários e máquinas.
O deficit comercial em segmentos industriais de média e alta tecnologia (química, bens de capital
e eletroeletrônica) atingiu cerca
de US$ 44 bilhões em 2009, número que deve superar US$ 50 bilhões neste ano. Mesmo em bens
intermediários, setor no qual o
Brasil há muito é competitivo, a
penetração das importações tem
aumentado com rapidez.
Há nesse fenômeno aspectos
positivos que devem ser reforçados, tais como controle da inflação e incremento da concorrência
e da produtividade. Mas é preciso
considerar que a indústria brasileira não compete em condições
isonômicas, premida pela alta carga tributária e outras mazelas. E
não se pode perder de vista que a
internacionalização das cadeias
de produção é um processo lento;
uma vez estabelecido não pode
ser revertido facilmente.
Muitos argumentam que a preocupação com a indústria é equivocada e que o Brasil poderia construir um modelo econômico baseado em agroindústria de ponta e
serviços com alto valor agregado.
Ocorre que esta é uma estratégia
um tanto arriscada no estágio
atual de desenvolvimento do país.
A história não traz muitos exemplos de economias que convergiram para esse modelo de especialização -especialmente na área
de serviços- quando tinham renda per capita baixa ou média (por
exemplo, em torno de US$ 10 mil
por ano, como é o caso brasileiro).
Para tanto, seria necessário
contar com mão de obra altamente produtiva, o que ainda é um
problema no Brasil.
Ganhos de produtividade também são mais difíceis no setor de
serviços em comparação com o
que pode ocorrer na indústria, como é evidente até em alguns países desenvolvidos, como a Alemanha e o Japão.
A não ser que se instale uma
verdadeira revolução educacional, é provável que um modelo baseado em consumo, especialização em serviços, câmbio valorizado e deficit crônicos em conta corrente mostre-se insustentável no
médio prazo. Em outras ocasiões,
o Brasil já se viu atropelado pela
realidade ao hesitar em tomar as
medidas necessárias.
Embora os riscos não sejam
imediatos, é preciso combater a
resignação que cada vez mais parece se instalar no país a respeito
da perda de peso da indústria.
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