São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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PODER E "DENUNCISMO"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o auxílio de alguns de seus principais colaboradores, tem procurado divulgar a idéia de que o país está sendo varrido por uma onda de "denuncismo". Segundo o primeiro mandatário, pessoas "são difamadas pela imprensa" e têm o nome "achincalhado pelos quatro cantos do país". Quando nada se prova, "ninguém pede desculpas pelo estrago que foi feito à imagem da pessoa, à imagem da família, à imagem do Estado brasileiro".
Não se pode dizer que o presidente e o PT desconheçam a matéria. Em tempos de oposição, o petismo notabilizou-se pelo desassombro com que fazia acusações sem provas, vazava informações sigilosas e partia para a pura e simples difamação. Não é demais lembrar que foi proferida por Lula, anos atrás, a célebre frase segundo a qual o Congresso Nacional seria composto por "300 picaretas". Manifestações desse tipo, de fato, servem apenas, em sua genérica leviandade, para o achincalhe -no caso, do Legislativo, instituição que integra o Estado brasileiro, cuja imagem o presidente agora diz estar empenhado em preservar.
O governo, na realidade, não parece estar incomodado exatamente com os riscos de a imprensa difamar cidadãos. Quanto a isso, ao contrário do que alguns pretendem fazer crer, há leis em vigor no país -e elas são largamente utilizadas.
O que talvez seja particularmente incômodo para os atuais governantes é perceber que não podem -felizmente- exercer controle sobre tudo. Que fazem parte de algo maior, uma República, da qual não são proprietários, mas servidores, com todos os ônus que isso implica. Homens públicos estão sujeitos a escrutínio diferenciado e não podem administrar o Estado como se fosse um empreendimento particular.
Partidos de esquerda e líderes carismáticos muitas vezes acatam, mas nem sempre verdadeiramente professam os princípios e valores da democracia. Porta-vozes autoproclamados da história, da verdade e do "povo", costumam ver nas instituições republicanas apenas um embaraço ao livre exercício do poder.


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