|
Próximo Texto | Índice
PODER E "DENUNCISMO"
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, com o auxílio de alguns de seus principais colaboradores, tem procurado divulgar a idéia
de que o país está sendo varrido por
uma onda de "denuncismo". Segundo o primeiro mandatário, pessoas
"são difamadas pela imprensa" e
têm o nome "achincalhado pelos
quatro cantos do país". Quando nada se prova, "ninguém pede desculpas pelo estrago que foi feito à imagem da pessoa, à imagem da família,
à imagem do Estado brasileiro".
Não se pode dizer que o presidente
e o PT desconheçam a matéria. Em
tempos de oposição, o petismo notabilizou-se pelo desassombro com
que fazia acusações sem provas, vazava informações sigilosas e partia
para a pura e simples difamação.
Não é demais lembrar que foi proferida por Lula, anos atrás, a célebre
frase segundo a qual o Congresso
Nacional seria composto por "300
picaretas". Manifestações desse tipo,
de fato, servem apenas, em sua genérica leviandade, para o achincalhe
-no caso, do Legislativo, instituição
que integra o Estado brasileiro, cuja
imagem o presidente agora diz estar
empenhado em preservar.
O governo, na realidade, não parece estar incomodado exatamente
com os riscos de a imprensa difamar
cidadãos. Quanto a isso, ao contrário
do que alguns pretendem fazer crer,
há leis em vigor no país -e elas são
largamente utilizadas.
O que talvez seja particularmente
incômodo para os atuais governantes é perceber que não podem -felizmente- exercer controle sobre
tudo. Que fazem parte de algo maior,
uma República, da qual não são proprietários, mas servidores, com todos os ônus que isso implica. Homens públicos estão sujeitos a escrutínio diferenciado e não podem administrar o Estado como se fosse um
empreendimento particular.
Partidos de esquerda e líderes carismáticos muitas vezes acatam, mas
nem sempre verdadeiramente professam os princípios e valores da democracia. Porta-vozes autoproclamados da história, da verdade e do
"povo", costumam ver nas instituições republicanas apenas um embaraço ao livre exercício do poder.
Próximo Texto: Editoriais: O RISCO PETRÓLEO Índice
|