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Em ponta de faca
Enquanto o crime organizado aperfeiçoa suas técnicas rumo ao terror, polícia ainda comete erros básicos
A
FACE mais perversa da
repetição freqüente
das ondas de ataque do
crime organizado em
São Paulo não está nos sinais de
que a população vai construindo
maneiras de conviver com a nova
ameaça. Está na chance de essa
reação -esperada e até desejável- vir a ensejar o diagnóstico,
falso, de que se esgotaram as alternativas de combate à facção
criminosa, supostamente incorporada em definitivo ao cotidiano paulista. Essa resignação só
faria encobrir a incapacidade das
forças de segurança do Estado e
do país em cumprir seu dever de
debelar a organização criminosa.
Na melhor das hipóteses, o que
houve na madrugada de segunda-feira foi a repetição de uma
falha básica da parte da Secretaria da Segurança Pública, incapaz de mensurar a extensão e o
poder de fogo do PCC. Mais de
três meses após os primeiros ataques, são fortes os indícios de
que a polícia foi mais uma vez
apanhada de surpresa.
A informação mais acurada de
que dispunham, segundo o governador Cláudio Lembo, era sobre a possibilidade de atentados
no Dia dos Pais. Que, a essa altura dos acontecimentos, a tática
dos criminosos de atacar "fora da
data prevista" seja usada como
justificativa é dado revelador da
forma desorientada com que o
problema tem sido enfrentado.
Não tem melhores implicações
a versão, aceita pela polícia, de
que a correia de transmissão para a terceira onda de violência tenham sido parentes de líderes do
chamado PCC. Durante visita
aos presídios do oeste paulista,
no domingo, teriam recebido as
ordens do ataque e as retransmitido na chegada à capital, na madrugada de segunda-feira -escapando dos grampos da polícia.
Um procedimento tão rudimentar não deveria ser capaz de driblar a vigilância policial.
Tão logo eclodiram os primeiros ataques, em maio, a necessidade de cortar a comunicação
entre a cúpula da facção delinqüente e sua base apresentou-se
como medida prioritária e consensual. Mas os esforços para
implementá-la foram insuficientes. Embora parcela expressiva
dos líderes da quadrilha tenha sido isolada em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), não há
nenhuma notícia alvissareira no
sentido de que o poder público
tenha logrado cumprir um papel
básico: frustrar suas comunicações com o exterior.
A julgar pela eficiência e coordenação dos ataques desta semana, o fracasso em silenciar a comunicação entre líderes e comandados não foi a única falha
da ação preventiva da polícia. A
logística da quadrilha, articulada
a ponto de deflagrar ações em diversas cidades poucas horas após
o comando, continua imune aos
serviços de inteligência policiais.
É triste constatar que continua
em franco desenvolvimento o
aprendizado dos bandidos no
sentido de aproximar-se, a cada
novo ciclo de ataques, do perfil
de uma organização terrorista,
que espalha o pânico atingindo
aleatoriamente alvos civis. Pior é
olhar para a força pública e observar que o ritmo no qual avançam as suas técnicas de enfrentar esse novo inimigo está muito
aquém do desejado.
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