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Emendar as emendas
RELATÓRIOS de CPIs invariavelmente trazem um ou vários capítulos com sugestões de medidas para evitar a repetição dos ilícitos ou abusos investigados. A CPI dos Sanguessugas não é uma exceção.
O ponto mais sensível sobre o
qual ela faz recomendações é o
das emendas ao Orçamento da
União, um dos mais renitentes
focos de corrupção no país.
Não se pode privar congressistas de emendar o Orçamento.
Parlamentos foram criados justamente para controlar os gastos
do governo. No mais, é perfeitamente legítimo que o deputado
procure aprovar projetos ou
obras que beneficiem sua base.
É preciso, porém, criar mecanismos que previnam a fraude. O
mais evidente é acabar com as
emendas individuais, permitindo apenas as apresentadas por
bancadas. Um dos fatores que dificultam o controle dos gastos é o
fato de ele dispersar-se por pequenas iniciativas espalhadas
por milhares de prefeituras.
O relatório parcial da CPI levanta o problema e pede o fim
das emendas individuais, ainda
que sem a devida ênfase.
Uma das razões pelas quais
nunca se estabeleceram regras
mais firmes a esse respeito é que
o "statu quo" favorece não apenas aos parlamentares mas também ao governo. Saber qual projeto é de autoria de cada congressista e possuir a prerrogativa de
liberar ou não os recursos é uma
forma de fazê-lo votar segundo
os interesses do Planalto.
Não é uma estratégia de todo
eficiente, como se depreende pelo alto índice de traição na base
aliada, mas o governo sem dúvida a prefere em comparação à hipótese de ter de negociar coletivamente -e ceder mais.
Não resta dúvida, entretanto,
de que o caminho para reduzir a
corrupção e a fisiologia na política brasileira passa pelo aperfeiçoamento da confecção do Orçamento Geral da União.
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