São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2006

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CLÓVIS ROSSI

A "quadrilha" e o Alvorada

SÃO PAULO - Como diria Luiz Inácio Lula da Silva, "nunca neste país" a palavra "quadrilha", associada a companheiros de partido e de governo do presidente da República, havia sido usada em palácios oficiais. Sinal dos tempos, essa associação, no simbólico Palácio da Alvorada, apareceu anteontem pela voz de William Bonner e, incrível, não provocou uma reação indignada do presidente. Ao contrário, Lula ficou o tempo todo na defensiva, de cara fechada, com trejeitos que, em alguns poucos segundos, reproduziam os do discurso em que pediu desculpas ao país. O problema é que ele não tem defesa possível, porque não pode dizer que seus companheiros de partido e de governo são inocentes. Nunca o faz, aliás. Limita-se a duas canhestras tentativas de tirar o corpo fora: 1 - Entrega os companheiros, sempre que apertado. Anteontem, repetiu a manobra, com uma agravante: misturou até Antonio Palocci no saco geral da "quadrilha", quando Palocci é acusado de outro crime (quebra de sigilo). 2 - Repete, com outra formulação, mas o mesmo sentido, a tese daquela famosa entrevista de Paris, em que afirmou que o PT só faz o que todos os outros fazem "sistematicamente". É o mesmo que dizer: o PT é, sim, uma "quadrilha", mas há outras "quadrilhas" por aí. Tem mais: "quadrilhas" que ele diz agirem desde pelo menos 1985, ou seja, desde o governo de seu agora grande aliado José Sarney. Posto de outra forma, é a confissão, ainda que tardia, de que o partido e o dirigente que enchiam a boca para se dizerem monopolistas da ética e da moralidade pública não passam de uma baita fraude. É só comparar a entrevista de quinta com a que Lula deu aos mesmos Bonner e Fátima Bernardes no dia seguinte à vitória de 2002. A comparação equivale a cenas explícitas de estelionato eleitoral.

crossi@uol.com.br


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