São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2006

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LUIZ FERNANDO VIANNA

Democracia peso-mosca

RIO DE JANEIRO - A TV Globo é danadinha. Fez, no principal telejornal do país, entrevistas de 12 minutos com os candidatos a presidente, e pode se gabar de ter prestado um serviço à democracia. Apesar das boas intenções, não passou de simulacro.
As entrevistas pareciam lutas peso-mosca, aquelas em que os boxeadores são levezinhos e batem o tempo todo, até na própria sombra. Não faltou nem o constrangedor reloginho contando o tempo no canto do vídeo.
De um lado, os bem treinados entrevistadores tentavam acertar o maior número possível de golpes no adversário. Do outro, nas cordas, o candidato se esquivava e esboçava movimentos para conquistar o impossível: agradar à torcida. Mas ela quer sangue! E dele, do candidato.
Resultados: Alckmin perdeu por nocaute; Lula por nocaute técnico (não caiu, mas estava grogue); Cristovam por pontos (só tinha um golpe, e quem quer saber de educação?); e Heloísa ganhou porque usou um dos golpes mais baixos do ser humano: a ironia.
A TV Globo prestaria um serviço à democracia se reservasse, pelo menos, uns 40 minutos de sua programação para cada entrevista. Daria para ver se os candidatos têm algo de fato a dizer ou se é só isso mesmo: os chavões de Alckmin, as mentiras de Lula, o bate-estaca de Cristovam e a bipolaridade de Heloísa -ora maternal, ora onça faminta.
Mas 40 minutos de entrevista não dão ibope, não vendem comercial. Televisão, todo mundo sabe, é "imagem", "mensagem", "atitude". Idéias? Se alguém tiver uma e conseguir transmiti-la em 12 minutos, enquanto é interrompido pelo entrevistador, que levou quase um minuto para formular a primeira pergunta (aconteceu com Lula), parabéns. Mas não falem em democracia. Isso é luta -e não é livre.


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