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CLÓVIS ROSSI
Eles também não sabiam
SÃO PAULO - Muita gente critica,
com razão, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva por repetidamente dizer que não sabia de fatos graves
que se davam ao seu redor ou no
país. Não sabia, por exemplo, do
mensalão. Não sabia, outro exemplo, do que depois chamaria de
"câncer" no setor aéreo.
Para azar de todos, temo que o
"não sabia" é mais generalizado, de
que dá prova a tal "bolha imobiliária" que agora ameaça explodir com
conseqüências que ninguém ousa
prever.
Vejamos um pouco o seu possível
tamanho: o valor total dos imóveis
nas economias desenvolvidas subiu
mais de US$ 30 trilhões (trilhões,
repito) nos cinco anos entre 2000 e
2005. Ou seja, teve uma valorização
(só valorização, não o estoque total
de imóveis) da ordem de 37 vezes o
tamanho, à época, de toda a economia brasileira.
Mais: o Fed, o banco central dos
EUA, chegou a calcular que as obrigações financeiras (papagaios, em
linguagem popular) dos lares norte-americanos como porcentagem
de sua renda total era a maior desde
que as estatísticas começaram a ser
coletadas. O endividamento total
do setor imobiliário residencial nos
Estados Unidos chegou este ano a
US$ 10,2 trilhões, ou 75% de um
PIB calculado em US$ 13 trilhões.
É, pois, uma "bolha" à espera do
estouro.
Ainda assim, fui testemunha ocular este ano de dois momentos em
que os economistas do mundo rico,
supostamente sofisticados, poderiam ter ao menos mencionado o
risco: em Davos, em janeiro, no encontro anual do Fórum Econômico
Mundial, e em Paris, em maio, na
divulgação do Panorama Econômico 2007 da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o clubão dos 30
países mais ricos do mundo).
Em ambas as ocasiões, o panorama descrito era róseo, sem nuvens.
Não dá para ser cristão e perdoá-los
por não saberem o que dizem.
crossi@uol.com.br
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