São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Analfabetismo e a área qualitativa

Se formos julgar o problema do analfabetismo em termos quantitativos e em perspectiva histórica, não há dúvida de que a situação no Brasil melhorou muito.
Os maiores ganhos foram obtidos no período mais recente. Começamos o século 20 com cerca de 65% de analfabetos -uma tragédia-, tendo baixado para 51% em 1950 e apresentado reduções mais drásticas só a partir de 1975 -para chegarmos ao ano 2000 com 13% de analfabetos. Hoje são 11%.
Mas, quando se adentra a área qualitativa, o quadro é outro. Pesquisa realizada pelo Ibope em 2004 e publicada nesta semana -em pleno século 21- informa que a taxa de "analfabetismo funcional" é de 77%! Apenas 23% dos brasileiros que têm entre 15 e 64 anos conseguem resolver problemas numéricos que exigem cálculos matemáticos e têm domínio da leitura de gráficos, mapas e tabelas.
O problema tem sido percebido em outras esferas. Testes realizados por alguns Tribunais Regionais Eleitorais entre candidatos a vereadores e prefeitos mostraram que uma parcela expressiva não entende o que lê e escreve com dificuldade. São os que se propõem a fazer leis e a executar programas.
É um quadro alarmante. Afinal, vivemos na chamada "sociedade do conhecimento", na qual os neurônios são muito mais importantes do que os músculos. Para poder trabalhar, exercer a cidadania e subir na vida, os seres humanos precisam dominar muito bem a linguagem e a matemática -para dizer o menos-, pois o mercado de trabalho e a sociedade em geral estão se tornando cada vez mais exigentes.
Vejam alguns dados adicionais, verdadeiramente dantescos: 46% dos brasileiros só conseguem resolver problemas que envolvam apenas uma operação aritmética. Se tiverem de encadear mais de um cálculo, eles se complicam e não saem do lugar.
Há coisas piores. Cerca de 29% dos maiores de 15 anos são incapazes de somar e de subtrair, e 2% não conseguem sequer identificar os números!
Observem bem: a pesquisa estudou pessoas que fizeram dois, três, quatro e até mais anos de escola. Não se trata de um estudo dos analfabetos, mas, sim, de uma análise dos 89% que são considerados alfabetizados.
O resultado é dramático e precisa ser revertido, pois nenhum país consegue crescer 5% ou 6% ao ano por muito tempo com uma população tão mal preparada.
Mais do que nunca, o esforço agora deve ser concentrado na área qualitativa.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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