São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Regra de três

RIO DE JANEIRO - Recente pesquisa divulgada na semana que passou revela que o brasileiro não é amante das matemáticas. Desprezando detalhes: quase 50% da nossa população ficou nas quatro operações básicas, somar, diminuir, multiplicar e dividir. Que, aliás, não chegam a ser matemática, mas aritmética.
Pessoalmente, não tenho elementos para confirmar ou desmentir a pesquisa, mas fiquei preocupado, a começar por mim próprio, que estou exatamente nesses 50% que mal e porcamente contam com os dedos e desconfiam dessas calculadoras capazes de extrair raízes quadradas -besta negra que me reprovou em diversos exames que fui obrigado a fazer por aí.
Já lembrei, em crônica antiga, a solução que Hitler pretendia dar para o domínio absoluto da raça ariana. É evidente que o primeiro passo seria o domínio militar, o exercício da força bruta. Mas depois? Conquistado o mundo, como poderiam 50 milhões ou 60 milhões de arianos dominar os 6 bilhões ou 7 bilhões de eslavos, saxônicos, latinos, asiáticos, o resto da humanidade, enfim?
Manter exércitos ou milícias policiais para garantir a "pax" ariana seria prolongar a guerra infinitamente. Mas, impedindo os não-arianos de estudar matemática, em duas gerações a humanidade seria escrava dos arianos, que teriam acesso aos logaritmos e raízes quadradas.
Nós, latinos, eslavos, saxônicos, orientais etc., saberíamos somar, diminuir, multiplicar e dividir, com isso formaríamos a humanidade de segunda classe, que exerceria, além dos ofícios braçais, a multidão de empregados à disposição dos gênios, que, além da força militar, teriam o poder das pesquisas, dos laboratórios, dos avanços tecnológicos em geral.
Li isso em "Mein Kampf", Hitler já estava derrotado. Contudo a solução proposta por ele ficou por aí, no ar, alguém ainda pode pegá-la. Mesmo assim, recuso-me a aprender uma simples regra de três.
O cronista estará fora desta coluna durante uma semana.



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