São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Correto, mas impotente

COPENHAGUE - Depois de o presidente Lula ter dito anteontem que o Brasil não aceitaria que jogassem nas suas costas o prejuízo por um "jogo" do qual não participou, seria minha vez de perguntar. Mas a pergunta acabou suprimida, não porque o governo finlandês censure a "mídia golpista", mas porque é rígido com o tempo, e o programa estava atrasado.
Eu perguntaria: "OK, cara pálida, mas o que se pode fazer para impedir que a crise dos mercados caia nas costas do Brasil? Deslocar as tropas de Cité Soleil, no Haiti, para Wall Street, em Nova York?".
O fato é que o diagnóstico de Lula é correto. Tão correto que foi repetido, no mesmo dia e com o mesmo enfoque, pelo seu colega francês Nicolas Sarkozy, que nem carrega o ônus, ao contrário de Lula, de ter sido algum dia vagamente esquerdista. Se Lula fala em "cassino", Sarkozy fala em "predadores".
Até um banqueiro central, que, por definição, são mornos, diz que os mercados estão "febris". Refiro-me a Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu. Febre é anomalia, certo?
O problema não é, portanto, de diagnóstico, mas de remédio. Ou da absoluta impotência, tanto de Lula como de Sarkozy, de adotarem remédios que ponham fim ou controlem o "cassino" ou a "predação", ao gosto de cada qual.
Os mercados, hoje, podem mais que os governos, goste-se ou não do "jogo". A menos que os governos, em especial os do mundo rico, atuem em conjunto para regulamentar, controlar, vigiar, impor limites à brincadeira.
Perderam a grande chance em junho, no G8 da Alemanha, quando Angela Merkel queria só um "código de conduta" e mais transparência no "cassino". Os Estados Unidos refugaram.
Mais um motivo para dar razão a Lula quando ele estrila com o risco de o Brasil tomar no lombo o prejuízo do jogo não jogado.


crossi@uol.com.br

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