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CLÓVIS ROSSI
Correto, mas impotente
COPENHAGUE - Depois de o presidente Lula ter dito anteontem
que o Brasil não aceitaria que jogassem nas suas costas o prejuízo por
um "jogo" do qual não participou,
seria minha vez de perguntar. Mas a
pergunta acabou suprimida, não
porque o governo finlandês censure
a "mídia golpista", mas porque é rígido com o tempo, e o programa estava atrasado.
Eu perguntaria: "OK, cara pálida,
mas o que se pode fazer para impedir que a crise dos mercados caia
nas costas do Brasil? Deslocar as
tropas de Cité Soleil, no Haiti, para
Wall Street, em Nova York?".
O fato é que o diagnóstico de Lula
é correto. Tão correto que foi repetido, no mesmo dia e com o mesmo
enfoque, pelo seu colega francês Nicolas Sarkozy, que nem carrega o
ônus, ao contrário de Lula, de ter sido algum dia vagamente esquerdista. Se Lula fala em "cassino", Sarkozy fala em "predadores".
Até um banqueiro central, que,
por definição, são mornos, diz que
os mercados estão "febris".
Refiro-me a Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central
Europeu. Febre é anomalia, certo?
O problema não é, portanto, de
diagnóstico, mas de remédio. Ou da
absoluta impotência, tanto de Lula
como de Sarkozy, de adotarem remédios que ponham fim ou controlem o "cassino" ou a "predação", ao
gosto de cada qual.
Os mercados, hoje, podem mais
que os governos, goste-se ou não do
"jogo". A menos que os governos,
em especial os do mundo rico,
atuem em conjunto para regulamentar, controlar, vigiar, impor limites à brincadeira.
Perderam a grande chance em junho, no G8 da Alemanha, quando
Angela Merkel queria só um "código de conduta" e mais transparência no "cassino". Os Estados Unidos
refugaram.
Mais um motivo para dar razão a
Lula quando ele estrila com o risco
de o Brasil tomar no lombo o prejuízo do jogo não jogado.
crossi@uol.com.br
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