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MELCHIADES FILHO
A quebradeira do decoro
BRASÍLIA - As perícias da polícia
não foram conclusivas. Não surgiram provas de negócios escusos
com o lobista da construtora. Quanto ao favorecimento a uma cervejaria, as apurações implicam mais o
irmão deputado. O uso de laranjas
na compra e venda de rádios e jornal? Ainda que os indícios pareçam
robustos, as investigações pouco
avançaram, em virtude da prioridade dada à denúncia original. Tudo o
que há sobre a quarta suspeita, de
propina em ministérios, é um depoimento do ano passado.
Formalistas e interesseiros já
têm esse discurso engatilhado para
tentar virar o jogo, protegidos pelo
voto secreto e pelo debate fechado
no plenário. O ônus é de quem acusa, eles afirmam, alheios ao parecer
devastador do Conselho de Ética,
que aponta oito irregularidades.
Falta à tropa de choque, porém,
elaborar uma justificativa para os
pecados que Renan Calheiros cometeu uma vez na berlinda.
Não se trata aqui dos erros táticos
do senador (forneceu os documentos que, desconstruídos e desmoralizados, voltaram-se contra ele).
Mas da constatação do uso acintoso
e desmedido que fez da presidência
da Casa para se defender.
Antes reconhecido e mesmo elogiado como um político apaziguador, Renan vergou o Congresso.
Arbitrou ele mesmo os apartes e
contestações às explicações que
produzia à medida que os processos
se avolumavam. Escalou e tutelou o
Conselho de Ética enquanto pôde.
Pôs a secretária para revisar registros taquigráficos de depoimentos.
Patrocinou a idéia de uma CPI para
intimidar a imprensa. Ameaçou colegas com o discurso eu-sei-o-que-você-fez-no-verão-passado. Ocultou os empréstimos que, reconheceria mais tarde, bancaram as mesadas de Mônica Veloso. Chamou
de "gestante" a mãe da filha -e esta,
de "criança".
Por três longuíssimos meses,
quebrou não só o seu decoro mas o
de todos os senadores, a quem hoje
cabe decidir se ele vale o troco.
mfilho@folhasp.com.br
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