São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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NOBEL OPORTUNO

Foi justa a concessão do prêmio Nobel da Paz ao ex-presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-1981). Oficialmente, Carter recebe a láurea por "décadas de esforços para encontrar soluções pacíficas em conflitos internacionais, fazer a democracia e os direitos humanos avançarem e promover o desenvolvimento econômico e social".
Extra-oficialmente, a premiação é uma censura a George W. Bush. O presidente do Comitê Nobel Norueguês, Gunnar Berge afirmou, ao anunciar o nome do vencedor, que a escolha deste ano "deve ser interpretada como uma crítica à presente administração norte-americana".
Considerações políticas sempre pesam nas decisões do Nobel, especialmente para a láurea da Paz. Ainda assim é raro que membros dos comitês anunciem publicamente os reais motivos de suas escolhas. Os "esforços para encontrar soluções pacíficas" que constam da nota oficial se contrapõem à insistência de Bush em lançar um ataque contra o Iraque, mesmo sem o aval da ONU.
A despeito das circunstâncias, a premiação de Carter é justa. Já o teria sido em 1978, quando o então presidente foi um dos responsáveis pela celebração de um acordo de paz entre Israel e Egito. Na ocasião, o ex-mandatário americano não recebeu a láurea, que foi concedida ao premiê israelense Menachem Begin e ao presidente egípcio Anuar al Sadat, porque Carter não havia sido indicado para o comitê em tempo hábil.
Desde que deixou a Presidência dos EUA, Carter só acrescentou realizações a seu currículo. Tornou-se uma espécie de embaixador da paz, além de eterno observador eleitoral. Para o Brasil especificamente, Carter, cuja administração foi marcada pela defesa dos direitos humanos, foi importante por ter pressionado o governo militar a pôr um fim às torturas.
Neste momento delicado da história, em que são os próprios EUA a desempenhar um papel sombrio em termos de paz mundial, o Nobel para Carter é especialmente oportuno.


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