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FERNANDO RODRIGUES
O dólar na eleição
BRASÍLIA - É um lugar-comum dizer que a alta do dólar não tem efeito
imediato numa campanha presidencial. A esmagadora maioria dos 115,3
milhões de eleitores nunca foi apresentada a uma nota de US$ 1.
O efeito só ocorre quando a alta da
moeda norte-americana é sustentada por alguns meses. Tempo suficiente para que o efeito seja então sentido
no bolso das classes C, D e E.
É o que está acontecendo agora.
Mauro Zafalon, o maior especialista
em análise de preços desta Folha, vaticinou na edição de ontem do jornal,
com base em dados sólidos: "O consumidor deve preparar o bolso para os
próximos meses. A conjugação de vários fatores internos e externos vai intensificar ainda mais os reajustes de
preços nos alimentos básicos".
Logo abaixo, uma reportagem informava: "Pãozinho deve custar até
R$ 0,30". As padarias pagavam R$ 30
por uma saca de trigo há poucos meses. Desembolsam agora até R$ 72 pelo mesmo produto.
O eleitor mais pobre já sente o salário acabar antes do final do mês. Na
TV, todas as noites, ouve essa história
do dólar bater recorde atrás de recorde. Dia sim e dia também, escuta o
presidenciável José Serra (PSDB)
afirmar que Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) fará o Brasil virar um caos em
três meses.
Ontem, o Banco Central finalmente
tomou uma atitude depois de o presidente da autarquia, Armínio Fraga,
ter dito que "existem limites" para a
ação do governo. Como os limites foram alargados em menos de 48 horas, ficou uma dúvida. As dificuldades eram de ordem econômica ou política? Eis a grande interrogação do
momento nos céus de Brasília.
Armínio agiu e o dólar caiu, mas
ainda está na redondeza dos R$ 4. A
moeda norte-americana já conseguiu um lugar destacado nesta eleição. A grande dúvida é se a sua disparada chegou a tempo de ajudar
um dos candidatos neste segundo
turno.
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