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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Educação e o uso inteligente da água

Começaremos a próxima semana com o horário de verão. O objetivo é economizar energia. Dentro de alguns dias, enfrentaremos restrições no abastecimento de água. O objetivo é o mesmo -poupar o precioso líquido.
É incrível que um país como o Brasil, abundante em água (que dá para abastecer a população, irrigar a agricultura, sustentar as indústrias e fazer girar as turbinas de hidroelétricas), tenha de racionar os dois componentes mais fundamentais do crescimento econômico e do progresso social -a eletricidade e a água.
Na verdade, a propalada abundância de água é relativa, especialmente quando se consideram os hábitos perdulários de grande parte de nossa população. Gente que esbanja e desperdiça esses dois componentes, exagerando no tempo de banho no chuveiro elétrico, na iluminação de cômodos vazios, na lavagem de calçadas com o jato do esguicho, no embelezamento dos carros e no uso de bacias de privadas propelidas a água potável. Um abuso!
É urgente intensificar nos currículos escolares e nos programas de televisão informações que levem os gastadores a controlar os maus hábitos. Cerca de 77% do planeta Terra é recoberto por água. Mas apenas 0,3% dessa cobertura pode ser aproveitada pelo homem. Portanto a referida abundância é enganosa.
Nossas crianças e adolescentes precisam saber disso e interiorizar esse conhecimento de modo a moldar comportamentos comedidos.
E as águas subterrâneas? O aquífero Guarani, com área predominante no Brasil, possui aproximadamente 37 mil quilômetros cúbicos dessas águas (estudo das secretarias de Meio Ambiente dos Estados de São Paulo e da Bavária, Alemanha, 2001). Mas isso não é infinito. Tem seus limites. Hoje, já existem cerca de 300 mil poços profundos em plena operação, abastecendo indústrias, hospitais, condomínios, hotéis etc. A cada ano, são perfurados 10 mil adicionais. O ritmo é frenético. Segundo a Cetesb, 72% dos municípios de São Paulo são parcialmente abastecidos por essas águas.
Nos próximos anos, a exploração subterrânea deverá aumentar, pois as águas superficiais dos mananciais vêm sendo ameaçadas por habitações irregulares e pelo despejo de dejetos nos rios e represas -o que, mais uma vez, retrata a falta de educação de quem assim age. Ou seja, as águas profundas também devem ser consumidas com responsabilidade, mesmo porque não se conhece ainda a velocidade de reenchimento dos aquíferos.
O resumo dessa trágica ópera é que falta água porque falta educação. Países como Israel e todo o Oriente Médio, que sofrem com a escassez de água, ou como a China, que tem o lençol freático rebaixado de forma pavorosa a cada ano, ensinaram seus povos a usar a água com inteligência. Será que teremos de chegar ao "fundo do poço" para, então, aprendermos a economizar o precioso líquido?
Não. A geração mais velha precisa ensinar a geração mais nova a usar a água com zelo para que este país possa progredir. Temos de agir já e de maneira firme e solidária.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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