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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Educação e o uso inteligente da água
Começaremos a próxima semana com o horário de verão. O objetivo é economizar energia. Dentro
de alguns dias, enfrentaremos restrições no abastecimento de água. O objetivo é o mesmo -poupar o precioso
líquido.
É incrível que um país como o Brasil,
abundante em água (que dá para
abastecer a população, irrigar a agricultura, sustentar as indústrias e fazer
girar as turbinas de hidroelétricas), tenha de racionar os dois componentes
mais fundamentais do crescimento
econômico e do progresso social -a
eletricidade e a água.
Na verdade, a propalada abundância de água é relativa, especialmente
quando se consideram os hábitos perdulários de grande parte de nossa população. Gente que esbanja e desperdiça esses dois componentes, exagerando no tempo de banho no chuveiro elétrico, na iluminação de cômodos
vazios, na lavagem de calçadas com o
jato do esguicho, no embelezamento
dos carros e no uso de bacias de privadas propelidas a água potável. Um
abuso!
É urgente intensificar nos currículos
escolares e nos programas de televisão
informações que levem os gastadores
a controlar os maus hábitos. Cerca de
77% do planeta Terra é recoberto por
água. Mas apenas 0,3% dessa cobertura pode ser aproveitada pelo homem.
Portanto a referida abundância é enganosa.
Nossas crianças e adolescentes precisam saber disso e interiorizar esse
conhecimento de modo a moldar
comportamentos comedidos.
E as águas subterrâneas? O aquífero
Guarani, com área predominante no
Brasil, possui aproximadamente 37
mil quilômetros cúbicos dessas águas
(estudo das secretarias de Meio Ambiente dos Estados de São Paulo e da
Bavária, Alemanha, 2001). Mas isso
não é infinito. Tem seus limites. Hoje,
já existem cerca de 300 mil poços profundos em plena operação, abastecendo indústrias, hospitais, condomínios,
hotéis etc. A cada ano, são perfurados
10 mil adicionais. O ritmo é frenético.
Segundo a Cetesb, 72% dos municípios de São Paulo são parcialmente
abastecidos por essas águas.
Nos próximos anos, a exploração
subterrânea deverá aumentar, pois as
águas superficiais dos mananciais
vêm sendo ameaçadas por habitações
irregulares e pelo despejo de dejetos
nos rios e represas -o que, mais uma
vez, retrata a falta de educação de
quem assim age. Ou seja, as águas profundas também devem ser consumidas com responsabilidade, mesmo
porque não se conhece ainda a velocidade de reenchimento dos aquíferos.
O resumo dessa trágica ópera é que
falta água porque falta educação. Países como Israel e todo o Oriente Médio, que sofrem com a escassez de
água, ou como a China, que tem o lençol freático rebaixado de forma pavorosa a cada ano, ensinaram seus povos
a usar a água com inteligência. Será
que teremos de chegar ao "fundo do
poço" para, então, aprendermos a
economizar o precioso líquido?
Não. A geração mais velha precisa
ensinar a geração mais nova a usar a
água com zelo para que este país possa
progredir. Temos de agir já e de maneira firme e solidária.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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