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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A era do extermínio

RIO DE JANEIRO - Até hoje ainda não consegui pronunciar corretamente o nome do novo governador da Califórnia, tampouco tive oportunidade para isso. Nunca vi um filme dele, não faz o meu gênero. Apesar disso, não me escandalizo com a sua eleição, a menos que, mais tarde, haja provas de que foi macetada.
A cultura norte-americana tem aspectos comoventes. Um dono de camisaria foi eleito vice-presidente de um estadista do porte de Roosevelt e tomou a decisão mais importante do século 20, que foi acabar com a Segunda Guerra Mundial na marra, jogando bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Foi reeleito e, entre mortos e feridos, revelou-se um presidente certo na hora certa.
Um outro ator, herói dos filmes classe B da velha Hollywood, também surpreendeu a comunidade internacional com o seu despreparo político, mas estabeleceu a ponte com João Paulo 2º para acabar com a Guerra Fria e desmantelar a Cortina de Ferro.
Como em quase todos os assuntos, sou compactamente ignorante em política nacional e, com mais razão, em política mundial, mas não fiquei escandalizado com a eleição de Schwarzenegger para o governo da Califórnia. A cultura norte-americana tem isso de bom: faz de um propagandista de laboratório um Prêmio Nobel de Literatura, de um lenhador, um grande presidente da República, e, de um vendedor de perus, um dos maiores industriais da história.
O novo governador californiano nasceu na Áustria e, como cidadão naturalizado, ouvi dizer que não pode candidatar-se à Presidência da República. Kissinger nasceu na Alemanha e chegou ao Departamento de Estado. Hitler também era austríaco e tomou o poder na Alemanha. A política, como aquela dona da ópera de Verdi, é "mobile".
Assim, é natural o receio de que um ator com fama de exterminador leve a sério o seu papel e consiga superar o presidente Bush na especialidade que o tornou famoso no cinema.



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