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CARLOS HEITOR CONY
A era do extermínio
RIO DE JANEIRO - Até hoje ainda não consegui pronunciar corretamente o nome do novo governador
da Califórnia, tampouco tive oportunidade para isso. Nunca vi um filme
dele, não faz o meu gênero. Apesar
disso, não me escandalizo com a sua
eleição, a menos que, mais tarde, haja provas de que foi macetada.
A cultura norte-americana tem aspectos comoventes. Um dono de camisaria foi eleito vice-presidente de
um estadista do porte de Roosevelt e
tomou a decisão mais importante do
século 20, que foi acabar com a Segunda Guerra Mundial na marra, jogando bombas atômicas em
Hiroshima e Nagasaki. Foi reeleito e,
entre mortos e feridos, revelou-se um
presidente certo na hora certa.
Um outro ator, herói dos filmes
classe B da velha Hollywood, também surpreendeu a comunidade internacional com o seu despreparo político, mas estabeleceu a ponte com
João Paulo 2º para acabar com a
Guerra Fria e desmantelar a Cortina
de Ferro.
Como em quase todos os assuntos,
sou compactamente ignorante em
política nacional e, com mais razão,
em política mundial, mas não fiquei
escandalizado com a eleição de
Schwarzenegger para o governo da
Califórnia. A cultura norte-americana tem isso de bom: faz de um propagandista de laboratório um Prêmio
Nobel de Literatura, de um lenhador,
um grande presidente da República,
e, de um vendedor de perus, um dos
maiores industriais da história.
O novo governador californiano
nasceu na Áustria e, como cidadão
naturalizado, ouvi dizer que não pode candidatar-se à Presidência da
República. Kissinger nasceu na Alemanha e chegou ao Departamento
de Estado. Hitler também era austríaco e tomou o poder na Alemanha.
A política, como aquela dona da ópera de Verdi, é "mobile".
Assim, é natural o receio de que um
ator com fama de exterminador leve
a sério o seu papel e consiga superar o
presidente Bush na especialidade que
o tornou famoso no cinema.
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