São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Sinais d'África

MONTREUX - Herbert Chakanyuka, executivo-chefe da ZimTrade, agência de promoção de exportações de Zimbábue, voltou do Brasil impressionado com o etanol. "Vocês precisam ver o que está acontecendo por lá", contou a seus companheiros no regresso. Sugeriu igualmente estreitar a cooperação entre os dois países.
Que, no entanto, esbarra, entre outros motivos, na hiperinflação em Zimbábue.
"Os brasileiros nem querem conversar com a gente, horrorizados com a hiperinflação", relata. Não deixa de ser uma ironia: há 20 anos, eram os estrangeiros que não queriam conversar com os brasileiros, porque não entendiam o funcionamento de uma economia sob inflação superelevada.
Mas, atenção, a África não é só Zimbábue, hiperinflação, guerras tribais, ditaduras brutais, Aids em nível epidêmico, pobreza e atraso. É tudo isso, sim, mas há um lado menos sombrio começando devagarinho a despontar.
Por isso é preconceituoso e tolo ridicularizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque ele vai de novo à África na semana que vem (Burkina Fasso, República do Congo, África do Sul e Angola). Mesmo para os que desprezam o aspecto político de aproximação com o sul, há, sim, negócios a explorar.
Afinal, o continente cresceu mais que o Brasil nos últimos três anos (5,5% no ano passado) e, em 2007, o crescimento previsto pelo Fundo Monetário Internacional vai à altura de 6,2%. Não é exatamente uma China ou uma Índia, mas não deixa de ser um espetáculo.
No fórum do Centro Comercial Internacional, braço técnico conjunto da OMC e da Unctad, ontem encerrado, esse espetáculo aparecia na forma de uma nova atitude dos funcionários e empresários de países africanos, mais ofensiva, menos envergonhada e menos inclinada a culpar apenas os colonizadores por todos os males.


crossi@uol.com.br

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