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CLÓVIS ROSSI
Sinais d'África
MONTREUX - Herbert Chakanyuka, executivo-chefe da ZimTrade, agência de promoção de exportações de Zimbábue, voltou do Brasil impressionado com o etanol.
"Vocês precisam ver o que está
acontecendo por lá", contou a seus
companheiros no regresso.
Sugeriu igualmente estreitar a
cooperação entre os dois países.
Que, no entanto, esbarra, entre outros motivos, na hiperinflação em
Zimbábue.
"Os brasileiros nem querem conversar com a gente, horrorizados
com a hiperinflação", relata. Não
deixa de ser uma ironia: há 20 anos,
eram os estrangeiros que não queriam conversar com os brasileiros,
porque não entendiam o funcionamento de uma economia sob inflação superelevada.
Mas, atenção, a África não é só
Zimbábue, hiperinflação, guerras
tribais, ditaduras brutais, Aids em
nível epidêmico, pobreza e atraso. É
tudo isso, sim, mas há um lado menos sombrio começando devagarinho a despontar.
Por isso é preconceituoso e tolo
ridicularizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque ele vai de
novo à África na semana que vem
(Burkina Fasso, República do Congo, África do Sul e Angola). Mesmo
para os que desprezam o aspecto
político de aproximação com o sul,
há, sim, negócios a explorar.
Afinal, o continente cresceu mais
que o Brasil nos últimos três anos
(5,5% no ano passado) e, em 2007, o
crescimento previsto pelo Fundo
Monetário Internacional vai à altura de 6,2%. Não é exatamente uma
China ou uma Índia, mas não deixa
de ser um espetáculo.
No fórum do Centro Comercial
Internacional, braço técnico conjunto da OMC e da Unctad, ontem
encerrado, esse espetáculo aparecia
na forma de uma nova atitude dos
funcionários e empresários de países africanos, mais ofensiva, menos
envergonhada e menos inclinada a
culpar apenas os colonizadores por
todos os males.
crossi@uol.com.br
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