São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

Tradução: renúncia

BRASÍLIA - "Licença" foi só um eufemismo para a renúncia. Ao se licenciar, depois de meses de resistência, Renan Calheiros não terá condições de voltar à presidência do Senado. Nem amanhã, nem daqui a um mês, nem daqui a dois.
No pronunciamento à TV Senado, forma de escapar de mais uma incômoda entrevista coletiva, ele justificou que se afastava para evitar constrangimentos, como o do plenário na terça, e disse que enfrentará os processos "à luz do dia".
Derrotado na guerra para manter a presidência, Renan vai lutar com igual garra para defender o que lhe resta: o mandato de senador. No pronunciamento, ele falou coisas como "a inflexível certeza da inocência" e "o poder é transitório, a honra é um bem permanente".
Renan já tinha decidido pela licença formal na manhã de ontem. Naquele momento, pensava em viajar no feriado com a família e anunciar uma licença de 60 dias na próxima segunda-feira. Acabou cancelando a viagem e antecipando o anúncio -e só por 45 dias.
A saída da presidência já estava negociada com Lula e com o PT desde a véspera, e, assim, o dia de ontem foi reservado a negociar com os adversários, em especial o PSDB. Daí a presença decisiva em Brasília do governador de Alagoas, o tucano Teotonio Vilela Filho, conterrâneo e amigo de Renan e voz bastante ouvida no PSDB.
A reação do Planalto é de alívio, porque a presidência do Senado será ocupada interinamente pelo petista fiel Tião Viana, num momento chave, que é o da tramitação de votação da prorrogação da CPMF. Já não se pode dizer o mesmo para senadores do DEM, do PSDB, do PMDB e do PT que ficaram frontalmente contra Renan, votando a favor da cassação ou pressionando pela renúncia ou pela licença.
Renan sai da presidência, mas as grandes indagações continuam: ele sai ou não atirando? E qual a sua munição? A crise não acabou.


elianec@uol.com.br

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