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Resposta imediata
Rápida deterioração de expectativas no Brasil exige adaptação ampla nas políticas fiscal, monetária e regulatória
A CRISE financeira internacional assumiu proporções inauditas. A
desconfiança generalizada derruba com violência os
preços das ações, dos títulos de dívida e das matérias-primas. Em
paralelo, bloqueia o funcionamento dos sistemas de crédito ao
redor do globo. Além da gigantesca desvalorização dos estoques de
riqueza, o aprofundamento da
crise ameaça paralisar a economia real, ou seja, a atividade produtiva e a criação de empregos.
A restrição de crédito também
atingiu empresas e bancos brasileiros. A incerteza se agravou com
a revelação de que operações de
alto risco no
mercado financeiro resultaram, com a
forte alta do
dólar, em elevados prejuízos para algumas grandes
corporações. A
busca frenética
dessas empresas por dólares
é um dos fatores que têm levado a moeda
americana a
subir muito
mais no Brasil,
nas últimas semanas, do que
nas outras economias.
Diante da
gravidade da
crise global,
bem como da
rápida deterioração de expectativas no
âmbito doméstico, o conjunto das políticas
fiscal, monetária e regulatória implementadas pelas autoridades econômicas brasileiras precisa ser rapidamente
adaptado.
Felizmente, a economia brasileira acumulou recursos durante
a bonança, o que permite uma
gestão diferenciada dos impactos
da crise. Como o setor público
tornou-se credor em dólar -as
reservas internacionais são bem
maiores do que a dívida externa
pública-, o estoque da dívida pública se reduz quando a cotação
do dólar sobe.
Esse é um contraste frontal e
decisivo em comparação com a situação de poucos anos atrás. Nos
momentos anteriores de turbulência internacional, a dívida do
setor público explodia com a desvalorização da moeda nacional,
forçando o país a elevar as taxas
de juros, cortar investimentos públicos e aumentar impostos. Essas políticas agravavam a retração
da produção e do emprego. Atualmente, o setor público está habilitado a realizar uma política anticíclica, mitigando as repercussões
deletérias da crise, a exemplo do
que fazem os governos dos países
desenvolvidos.
O desafio imediato é impedir a
disparada do dólar. A desvalorização exagerada do real aumenta a
impressão de que a economia brasileira está gravemente debilitada
pela crise externa. Para impedir a
consolidação de expectativas excessivamente pessimistas, a intervenção no mercado cambial é
necessária. O BC acumulou mais
de US$ 200 bilhões justamente
para usá-los em momentos de necessidade como agora.
Para minimizar os impactos recessivos da contração do crédito
externo e interno, duas outras
ações são urgentes: a) liberar parcela significativa dos depósitos
compulsórios
não-remunerados, que os bancos são obrigados a manter no
Banco Central,
em contrapartida à retomada
de operações de
crédito; b) garantir, com reservas de divisas ou outros recursos públicos,
a oferta de crédito para as exportações. O governo já tomou
algumas iniciativas nessa direção; cabe acelerá-las à medida
que a situação
se agrave.
Outra prioridade é preservar os investimentos em infra-estrutura e
deter os gastos
de custeio da
máquina pública. O contexto
justifica ajustes
jurídicos emergenciais e transitórios, a fim de
acelerar as licitações de obras e
desvincular despesas do Orçamento, para que o Executivo amplie sua margem de manobra em
tempos adversos.
Um eventual resgate de empresas com recursos públicos precisaria ser criterioso e absolutamente transparente. Só deveria
ser feito mediante contrapartida
de garantias, que poderiam incluir a transferência de ações e
outros ativos dos beneficiados ao
Tesouro Nacional.
A economia mundial passa por
um período de exceção. Sob o risco de pôr a perder um raro ciclo
de crescimento e estabilidade, o
Brasil precisa dar uma resposta
ampla e imediata à crise.
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