São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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Resposta imediata

Rápida deterioração de expectativas no Brasil exige adaptação ampla nas políticas fiscal, monetária e regulatória

A CRISE financeira internacional assumiu proporções inauditas. A desconfiança generalizada derruba com violência os preços das ações, dos títulos de dívida e das matérias-primas. Em paralelo, bloqueia o funcionamento dos sistemas de crédito ao redor do globo. Além da gigantesca desvalorização dos estoques de riqueza, o aprofundamento da crise ameaça paralisar a economia real, ou seja, a atividade produtiva e a criação de empregos.
A restrição de crédito também atingiu empresas e bancos brasileiros. A incerteza se agravou com a revelação de que operações de alto risco no mercado financeiro resultaram, com a forte alta do dólar, em elevados prejuízos para algumas grandes corporações. A busca frenética dessas empresas por dólares é um dos fatores que têm levado a moeda americana a subir muito mais no Brasil, nas últimas semanas, do que nas outras economias.
Diante da gravidade da crise global, bem como da rápida deterioração de expectativas no âmbito doméstico, o conjunto das políticas fiscal, monetária e regulatória implementadas pelas autoridades econômicas brasileiras precisa ser rapidamente adaptado.
Felizmente, a economia brasileira acumulou recursos durante a bonança, o que permite uma gestão diferenciada dos impactos da crise. Como o setor público tornou-se credor em dólar -as reservas internacionais são bem maiores do que a dívida externa pública-, o estoque da dívida pública se reduz quando a cotação do dólar sobe.
Esse é um contraste frontal e decisivo em comparação com a situação de poucos anos atrás. Nos momentos anteriores de turbulência internacional, a dívida do setor público explodia com a desvalorização da moeda nacional, forçando o país a elevar as taxas de juros, cortar investimentos públicos e aumentar impostos. Essas políticas agravavam a retração da produção e do emprego. Atualmente, o setor público está habilitado a realizar uma política anticíclica, mitigando as repercussões deletérias da crise, a exemplo do que fazem os governos dos países desenvolvidos.
O desafio imediato é impedir a disparada do dólar. A desvalorização exagerada do real aumenta a impressão de que a economia brasileira está gravemente debilitada pela crise externa. Para impedir a consolidação de expectativas excessivamente pessimistas, a intervenção no mercado cambial é necessária. O BC acumulou mais de US$ 200 bilhões justamente para usá-los em momentos de necessidade como agora.
Para minimizar os impactos recessivos da contração do crédito externo e interno, duas outras ações são urgentes: a) liberar parcela significativa dos depósitos compulsórios não-remunerados, que os bancos são obrigados a manter no Banco Central, em contrapartida à retomada de operações de crédito; b) garantir, com reservas de divisas ou outros recursos públicos, a oferta de crédito para as exportações. O governo já tomou algumas iniciativas nessa direção; cabe acelerá-las à medida que a situação se agrave.
Outra prioridade é preservar os investimentos em infra-estrutura e deter os gastos de custeio da máquina pública. O contexto justifica ajustes jurídicos emergenciais e transitórios, a fim de acelerar as licitações de obras e desvincular despesas do Orçamento, para que o Executivo amplie sua margem de manobra em tempos adversos.
Um eventual resgate de empresas com recursos públicos precisaria ser criterioso e absolutamente transparente. Só deveria ser feito mediante contrapartida de garantias, que poderiam incluir a transferência de ações e outros ativos dos beneficiados ao Tesouro Nacional.
A economia mundial passa por um período de exceção. Sob o risco de pôr a perder um raro ciclo de crescimento e estabilidade, o Brasil precisa dar uma resposta ampla e imediata à crise.


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