São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Longevidade e qualidade de vida

OS DADOS SOBRE a dinâmica da demografia no Brasil são animadores. Em apenas dez anos, a expectativa de vida dos brasileiros passou de 69 para 73 anos -um aumento de quatro anos.
Os determinantes são conhecidos. Os números relativos dos que nascem e dos que morrem diminuem a cada dia e, assim, a vida se prolonga, e a população envelhece -em ritmo acelerado. O número de brasileiros que têm 60 anos ou mais dobrará em menos de 20 anos -o que, na Europa, levou mais de 80 anos para acontecer.
Será que essa vida mais longa é uma vida boa? Os pesquisadores começam a se interessar exatamente por essa questão, como é o estudo de Milkon Matijascic e Maria Piñon Pereira Dias ("Terceira Idade e Esperança de Vida", Ipea, 2008).
As suas conclusões sobre a qualidade de vida de quem vive mais não ensejam festejos. Eles ressaltam que 30% dos meninos e 20% das meninas que nascem nos dias de hoje não chegarão aos 65 anos de idade, porque serão ceifados por doenças ou por violência. É uma proporção enorme -maior que a da China.
O estudo compara o Brasil com dez outras nações para saber quem tem mais tempo de vida saudável.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as mulheres vivem em média 80 anos, dos quais 71 são saudáveis; para os homens, são 75 anos de vida, e 67 anos saudáveis. Analisando pelo outro lado, as mulheres americanas passam nove anos doentes, e os homens, oito anos -na média, 8,5 anos.
Os brasileiros desfrutam de bem menos anos com boa qualidade de vida. Para as mulheres, que vivem em média 76 anos, apenas 62 são com vida saudável -ou seja, elas passam 14 anos doentes, quase o dobro das americanas. Para os homens, os números são, respectivamente, 68 e 57, ou seja, 11 anos doentes. Na média, os brasileiros têm cerca de 13 anos de vida precária.
Na compar ação mencionada, o Brasil é o país onde há a maior perda de anos saudáveis. Isso significa que precisamos melhorar muito o atendimento à saúde do povo nos campos curativo e, principalmente, preventivo. Os prejuízos da doença são enormes. Em primeiro lugar, destaca-se o sofrimento das pessoas -que não pode ser mensurado. Em segundo lugar, há a perda da produtividade no trabalho dos seres humanos doentes. E, por último, há as despesas do governo e das famílias para cuidar dos doentes.
Depois de termos ampliado a cobertura dos serviços de saúde ao longo dos últimos 20 anos, está na hora de melhorarmos a sua qualidade.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES 0escreve mensalmente nesta coluna.



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