|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Longevidade e qualidade de vida
OS DADOS SOBRE a dinâmica
da demografia no Brasil são
animadores. Em apenas dez
anos, a expectativa de vida dos brasileiros passou de 69 para 73 anos
-um aumento de quatro anos.
Os determinantes são conhecidos. Os números relativos dos que
nascem e dos que morrem diminuem a cada dia e, assim, a vida se
prolonga, e a população envelhece
-em ritmo acelerado. O número
de brasileiros que têm 60 anos ou
mais dobrará em menos de 20 anos
-o que, na Europa, levou mais de
80 anos para acontecer.
Será que essa vida mais longa é
uma vida boa?
Os pesquisadores começam a se
interessar exatamente por essa
questão, como é o estudo de Milkon Matijascic e Maria Piñon Pereira Dias ("Terceira Idade e Esperança de Vida", Ipea, 2008).
As suas conclusões sobre a qualidade de vida de quem vive mais não
ensejam festejos. Eles ressaltam
que 30% dos meninos e 20% das
meninas que nascem nos dias de
hoje não chegarão aos 65 anos de
idade, porque serão ceifados por
doenças ou por violência. É uma
proporção enorme -maior que a
da China.
O estudo compara o Brasil com
dez outras nações para saber quem
tem mais tempo de vida saudável.
Nos Estados Unidos, por exemplo,
as mulheres vivem em média 80
anos, dos quais 71 são saudáveis;
para os homens, são 75 anos de vida, e 67 anos saudáveis. Analisando
pelo outro lado, as mulheres americanas passam nove anos doentes,
e os homens, oito anos -na média,
8,5 anos.
Os brasileiros desfrutam de bem
menos anos com boa qualidade de
vida. Para as mulheres, que vivem
em média 76 anos, apenas 62 são
com vida saudável -ou seja, elas
passam 14 anos doentes, quase o
dobro das americanas. Para os homens, os números são, respectivamente, 68 e 57, ou seja, 11 anos
doentes. Na média, os brasileiros
têm cerca de 13 anos de vida
precária.
Na compar
ação mencionada, o
Brasil é o país onde há a maior perda de anos saudáveis. Isso significa
que precisamos melhorar muito o
atendimento à saúde do povo nos
campos curativo e, principalmente, preventivo.
Os prejuízos da doença são enormes. Em primeiro lugar, destaca-se
o sofrimento das pessoas -que não
pode ser mensurado. Em segundo
lugar, há a perda da produtividade
no trabalho dos seres humanos
doentes. E, por último, há as despesas do governo e das famílias para
cuidar dos doentes.
Depois de termos ampliado a cobertura dos serviços de saúde ao
longo dos últimos 20 anos, está
na hora de melhorarmos a sua
qualidade.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES 0escreve mensalmente nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A cara da América Próximo Texto: Frases
Índice
|