São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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A fé nos boatos Mais do que razões religiosas, escândalos fizeram eleitor mudar o voto no final do 1º turno, corrigindo análises precipitadas sobre o pleito

Embora tenham dominado as especulações acerca das causas da fuga de votos da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno eleitoral, questões relacionadas à religião exerceram pouca influência no resultado.
Revelações sobre irregularidades cometidas pela ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, e notícias relativas à quebra dos sigilos fiscais de tucanos e parentes do ex-governador José Serra pesaram quase três vezes mais na decisão do eleitor -e seus efeitos colaterais atingiram o próprio candidato do PSDB.
Na reta final, de acordo com pesquisa Datafolha publicada ontem, cerca de 6% do eleitorado decidiu mudar o voto. A candidata do PT perdeu quatro pontos percentuais; Serra, dois.
Segundo o levantamento, 75% das perdas de Dilma foram provocadas pelos escândalos, o mesmo motivo apontado pela parcela que desistiu de votar no postulante do PSDB -talvez apreensiva quanto à correção fiscal dos citados e ao papel da militância tucana nos bastidores desses episódios.
Diante dos dados da pesquisa, a estratégia situacionista de apresentar Dilma Rousseff como vítima de calúnias e preconceitos religiosos -como se viu no debate de domingo à noite, na Rede Bandeirantes- pode resultar de uma análise precipitada.
Mesmo assim, a insistência em abordar esses assuntos, por mais espinhosos que de fato sejam para o petismo, não deixou de ter um aspecto de conveniência. Ao imputar aos adversários a divulgação de boatos e a promoção de uma espécie de cruzada ultraconservadora com o intuito de desmoralizá-la, Dilma deixou em segundo plano o que mais importava -as explicações sobre os desvios na Casa Civil e os critérios que nortearam a escolha de Erenice Guerra para ser sua principal assessora e, posteriormente, ministra.
Ao mesmo tempo, é legítimo que praticantes das diversas religiões desejem saber sobre as convicções pessoais dos candidatos e que sacerdotes procurem orientar os fiéis. O Estado é laico e assegura a liberdade de fé. Dentro desses parâmetros, a participação dos religiosos no debate eleitoral é parte da democracia.
Embora seja evidente o crescimento das igrejas evangélicas no país, parte delas demasiado inclinadas ao reino de César, nada sugere que uma agenda religiosa comece a substituir os temas que tradicionalmente disputam a atenção do eleitorado, ligados ao bem-estar econômico e social.
Os resultados apresentados pelo Datafolha reiteram, ainda, a função da imprensa na configuração do espaço público e do debate democrático. A internet constitui inestimável avanço técnico a serviço de todos os campos da atividade humana. Por mais notável, porém, que seja sua contribuição na área das comunicações, é o jornalismo profissional e independente que, seja na forma impressa, seja na eletrônica, vem iluminando a disputa eleitoral.


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