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TENDÊNCIAS/DEBATES
João Paulo 2º e a igreja no Brasil
AMAURY CASTANHO
Em seus longos 25 anos de fecundo
pontificado, o papa João Paulo 2º
passará à história como um dos romanos pontífices que mais marcaram a vida da igreja e do mundo. Ele tem sido,
incansavelmente, um mestre na fé e
pastor universal. Incansável em suas 103
viagens apostólicas, contribuiu para elevar o número dos católicos, entre 1978 e
2003, de 700 milhões para 1,1 bilhão.
Poucos outros papas escreveram tantas
encíclicas, exortações apostólicas e
mensagens abordando, praticamente,
todos os problemas internos da igreja e
do homem moderno.
Durante o seu pontificado, Karol
Wojtyla serviu e alterou também os rumos da Igreja Católica no Brasil. A atual
presidência da CNBB e os integrantes
do novo Conselho Episcopal dos Bispos, o Consep, são apenas duas das provas do renovado perfil do episcopado
brasileiro. Tendo eleito a maioria dos
nossos bispos, em especial dos que estão à frente das 268 arquidioceses, dioceses e prelazias, os atuais responsáveis
maiores pela igreja estão, certamente,
muito mais empenhados na evangelização e catequese que em questões sociais
e políticas.
Na década de 80 o papa João Paulo 2º,
aprovando as instruções "Libertatis
Conscientia" e "Libertatis Nuntius",
deixou bem claro que os caminhos percorridos pela Teologia da Libertação, no
Brasil e na América, distanciaram-se
perigosamente dos valores sociais do
Evangelho, marcados pelo amor, pela
solidariedade e pela promoção humana
em linhas distantes tanto do liberalismo
quanto do marxismo. O doloroso, mas
necessário, silêncio obsequioso imposto ao ex-franciscano Leonardo Boff certamente contribuiu para recolocar a opção preferencial pelos pobres, feita na
Conferência de Puebla, em seu lugar.
As três visitas apostólicas feitas ao
Brasil pelo atual venerando pontífice,
nos anos de 1980, 92 e 97, não só reuniram em torno de sua pessoa milhões de
jovens e adultos, autoridades e cientistas, operários e camponeses, mas também traçaram as necessárias diretrizes a
serem seguidas pela igreja. Os volumes
publicados pela CNBB, contendo as alocuções feitas por ele nas grandes cidades
do Brasil, merecem ser relidos e colocados em prática. Na linha da ortodoxia
da fé e da moral cristã, na defesa da vida,
da família, do amor e da justiça social,
eles apontam os rumos de uma fé aculturada e de uma ação pastoral que responda, o quanto antes, aos numerosos
desafios da realidade brasileira.
Merece ainda especial destaque a histórica decisão tomada pelo papa João
Paulo 2º quando, em 1989, desmembrou da Arquidiocese de São Paulo quatro novas dioceses: as de São Miguel
Paulista, Santo Amaro, Campo Limpo e
Osasco. A importante decisão, embora
não correspondendo ao projeto apresentado pelo então cardeal dom Paulo
Evaristo Arns ao papa Paulo 6º, propondo a criação de dioceses "interdependentes", resultou em novos seminários, catedrais e casas para a formação
de agentes de pastoral, na multiplicação
de paróquias, na ordenação de vários
presbíteros e no necessário incentivo
aos novos movimentos eclesiais, tornando a igreja muito mais presente na
grande periferia paulistana, há décadas
trabalhada agressivamente pelos evangélicos.
Karol Wojtyla terá não apenas uma bela página na história bimilenar da igreja, mas todo um
novo capítulo
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Acolhendo o episcopado brasileiro no
Vaticano, nas "visitas ad limina" realizadas a cada cinco anos, e também, depois das várias assembléias anuais, a
presidência da CNBB, o papa João Paulo 2º aprofundou visivelmente a efetiva
e afetiva comunhão entre a sua pessoa e
os pastores da igreja. Foram momentos
decisivos para as novas diretrizes impressas na presença e na ação da maior
comunidade católica do mundo.
Mereceriam ser lembrados outros
momentos decisivos para a igreja entre
nós: a eleição de novos bispos para as
mais importantes sedes arquiepiscopais
do Brasil, o fechamento do Seminário
Regional de Recife, as visitas apostólicas
às casas de formação do futuro clero e o
envio, para encontros com o episcopado, dos cardeais prefeitos para a congregação dos bispos Bernardin Gantim
-com uma carta paterna, porém firme-, Ângelo Sodano -na comemoração dos 500 anos de evangelização,
em Porto Seguro (BA)- e Giovanni Batista Rè -em 2002, quando a CNBB celebrava seu jubileu de ouro.
Estou convencido de que Karol
Wojtyla terá não apenas uma bela página na história bimilenar da igreja, mas
todo um novo capítulo, destacando a
sua pessoa como dos mais importantes
sucessores do apóstolo Pedro. Embora
mereça, João Paulo 2º não necessita de
nenhum Prêmio Nobel da Paz. O que
ele fez e continuará realizando em seu
pontificado credencia-o como um dos
maiores romanos pontífices, responsável também, como lembrou Gorbatchov, pela queda do Muro de Berlim e
pela derrocada do império soviético.
Dom Amaury Castanho, 76, jornalista, é o bispo diocesano de Jundiaí (SP).
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