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FERNANDO RODRIGUES
Verticalização e bigamia
BRASÍLIA - O argumento mais simples a favor da verticalização é que
Lula, Sarney, ACM, PMDB e PFL são
contra a manutenção dessa diretriz.
Se uma tropa assim tão distinta é
contra, a regra só pode ser boa.
A verticalização, como se sabe, determina que as alianças eleitorais na
disputa para presidente devem ser seguidas nos pleitos estaduais. Ou, pelo
menos, não desrespeitadas.
Muita gente deseja derrubar a verticalização por uma razão bem clara:
querem liberdade para traficar o
tempo de TV e rádio a que cada partido tem direito durante a eleição.
O PMDB, por exemplo, tem uma
ala a favor de apoiar Lula para presidente em 2006. Mas não vê com simpatia entrar na chapa petista para o
governo de São Paulo ou do Rio
Grande do Sul. Com a verticalização,
PT e PMDB ficam amarrados em todos os Estados.
Lula e Sarney falam sobre derrubar
a verticalização usando um raciocínio manco. "Casamento tem de ser
por amor, não pode ser obrigatório",
disse Lula. "Não se pode evitar que a
política regional tenha suas peculiaridades", completou Sarney.
Não se trata de casamento forçado.
É uma questão de eqüidade. A Constituição fala em partidos nacionais,
até porque o tempo de TV e rádio no
horário eleitoral é calculado com base nas bancadas de cada sigla na Câmara dos Deputados.
Se o cálculo desse tempo é nacional,
nada mais correto que as alianças
atendam também a uma lógica nacional. De outra forma, o ideal seria
estabelecer tempos diferenciados de
propaganda eleitoral em cada Estado, de acordo com as bancadas de deputados nas Assembléias Legislativas. Nas eleições municipais, seria seguido o número de vereadores de cada partido nas 5.600 cidades.
Seria o caos, mas seria respeitada a
lógica lula-sarneysista. Só que dividir
o butim do tempo de TV e rádio regionalmente ninguém quer. A idéia é
só liberar geral. Ou, como poderia dizer Lula, oficializar a bigamia na
propaganda eleitoral televisiva.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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