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CARLOS HEITOR CONY
A roda da história
RIO DE JANEIRO - Há muito perdi o contato com um grupo de feministas que, nos anos 80, pregava a
abstinência sexual das mulheres
com um argumento irrefutável:
"Como ter orgasmo enquanto Pinochet preside uma ditadura sangrenta e corrupta no Chile?".
É bem verdade que Augusto Pinochet deixou o poder, mas continuou poderoso e impune. Por causa
disso, as mulheres politizadas não
podiam ter orgasmos enquanto a
justiça não fosse feita. O tempo passou, não sei onde andam as feministas daquele tempo, Pinochet passou
a curtir o seu vinagre e acaba de
morrer.
Deixou uma herança amarga e
milhares de mortos, desaparecidos
e perseguidos, mas deixou também
no Chile uma economia estável, a
reboque do neoliberalismo que outros países tentam imitar.
Desde Julio César, os ditadores
morrem. Uns assassinados, outros
de morte natural, sem contar os que
se suicidam. Mas as ditaduras são
recorrentes. Qualquer bobeada nas
instituições democráticas e há sempre um ditador de plantão, em
"stand by" para salvar a nação.
Por mais que algumas ditaduras
aumentem a taxa de desenvolvimento de um país, o saldo político é
sempre negativo. O regime militar
implantado no Brasil perseguiu,
durante anos, o metalúrgico Lula,
que hoje é presidente da República.
No Chile, a atual presidente foi presa e torturada pelos esbirros de Pinochet e teve o pai assassinado durante o seu regime.
Apesar disso, há parcelas da opinião pública, tanto no Chile como
no Brasil, que cultivam a nostalgia
dos tempos de chumbo, achando
que os governos tudo podem e que o
povo, não sabendo votar, merece
um déspota, que não precisa ser necessariamente esclarecido.
Basta ser ditador, governar com
mão forte e não dar bola para o repúdio da nação.
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