|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Ousar para inovar
GUILHERME AFIF DOMINGOS
A missão primeira do programa é reduzir para no máximo 15 dias o prazo para abertura e fechamento de micro e pequenas empresas
A INFORMALIDADE, tanto das
empresas como da mão-de-obra, responde por uma imensa parcela da economia brasileira.
Somente no Estado de São Paulo,
existem cerca de 1,3 milhão de empreendedores formais e 3,2 milhões
de empreendedores informais. São
pintores, pedreiros, encanadores, piscineiros, eletricistas, ambulantes,
costureiras, cabeleireiras e uma gama
variada de ocupações que poderiam
se desenvolver na formalidade se o
enquadramento na burocracia existente não impedisse a formalização.
Roberto Campos, um dos mais lúcidos e cultos economistas brasileiros,
classificava os informais em dois tipos: os acidentalmente informais
-que vivem de atividades lícitas, mas
praticamente impedidos de formalizar-se por dificuldades legais; e os vocacionalmente informais -que são os
que não podem se formalizar porque
suas atividades são ilícitas, tais como
crime organizado, venda de mercadoria roubada, pirataria etc.
Isso dificulta o combate ao crime
organizado, pois muitas atividades
informais se misturam e fica difícil
definir quem está na informalidade
por causa da burocracia e quem é informal pois trabalha na ilegalidade.
A burocracia coloca o Brasil como
um dos piores lugares do mundo em
termos de apoio ao empreendedorismo, o que levou o governador José
Serra a criar o Programa Estadual de
Desburocratização (PED), cuja missão primeira é a de reduzir para no
máximo 15 dias o prazo para abertura
e fechamento de micro e pequenas
empresas.
Essa decisão vai reduzir a informalidade e melhorar a percepção de empreendedores externos sobre as condições para investir no Brasil.
O decreto 52.228, de 5 de outubro
último, que regulamentou a lei complementar 123/06, criou o Portal
Poupatempo do Empreendedor, que
vai unificar os cadastros de todas as
prefeituras com o do Estado e este,
por sua vez, com o da União, o que
possibilitará ao micro e pequeno empreendedor abrir uma empresa pela
internet, sem precisar fazer a "via-crúcis" de repartição em repartição.
Quatro foram os princípios que
nortearam esse decreto: desburocratizar para informatizar; baratear para
formalizar; acreditar no cidadão para
agilizar; ousar para inovar.
Atualmente, no Brasil, está se informatizando a burocracia. Como diria Roberto Campos, está se "aprimorando o obsoleto". Para evitar isso, o
papel do comitê gestor criado pelo decreto do sr. governador tem a missão
de, em primeiro lugar, reduzir toda a
burocracia dos processos para, somente depois, informatizar, o que dará ganhos consideráveis de tempo e
papel, tanto para o Estado quanto para os contribuintes.
O Portal Poupatempo do Empreendedor estará funcionando em janeiro
de 2009, mas vamos antecipar coisas
importantes. É o caso da criação da figura do MEI (Microempreendedor
Individual), que não tem sido devidamente analisado e comentado, apesar
de sua importância revelada pelas
estatísticas.
Previsto na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, o MEI é aquele pequenino empreendedor que fatura
até R$ 3 mil por mês -ou até R$ 36
mil por ano-, o que engloba cerca de
3,2 milhões de pessoas que tiram sua
sobrevivência de atividades individuais ou de porte muito reduzido.
A partir do primeiro trimestre de
2008, o MEI já começa a ser implantado em todo o Estado.
Ele não tem contabilidade, não
emite nota fiscal, sua criação se dará
apenas no município e sem reconhecimento de firma, mas vai pagar o imposto, sim. Não será isento. A taxa é a
mesma do Simples -cerca de 4% do
faturamento sobre a renda declarada
por ele-, e o pagamento será feito por
meio de um carnê, em 12 meses.
Com isso, ele está legalizado. Esse
carnê, com a sua renda declarada e o
imposto pago, representa a carteira
de trabalho, o holerite, para que ele
possa obter crédito para suas necessidades de investimento e consumo, fazendo com que ele entre no "hall" do
cidadão com direitos e sem medo de
ser consumido pela burocracia.
Essa é a revolução silenciosa que
estará acontecendo a partir do ano
que vem, sem alardes. É só conferir.
GUILHERME AFIF DOMINGOS, 64, empresário, é secretário do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo e presidente do Comitê Estadual de
Desburocratização.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Luiz Flávio Cappio: Jejuo também por democracia real
Índice
|