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ELIANE CANTANHÊDE
Volta ao passado?
BRASÍLIA - O governo FHC passou anos preparando a desmilitarização da aviação civil, com o fim do
DAC, que cuidava de aviões e vôos, e
a passagem da Infraero, responsável pelos aeroportos, para civis. Foi
o que ocorreu no governo Lula.
O DAC virou Anac, com Zuanazzis, Denises, políticos derrotados,
falsas normas, uma grande confusão, e a Infraero virou alvo prioritário em tiroteios contra corrupção.
A desmilitarização das cúpulas
aguçou as ambições das bases, e os
sargentos controladores de vôo articularam algo comum para civis,
mas absurdo para militares: greves
e mobilizações de caráter sindical.
Vieram o acidente do Gol 1907, no
qual os controladores tiveram papel decisivo, e depois o do TAM
3054, que expôs deficiências da
Anac e uma briga infernal no setor.
Anos depois da desmilitarização,
o governo está nomeando interinamente, mas por bom tempo, um militar da mais alta patente da Aeronáutica e da ativa para a presidência
da Infraero. Depois do ex-governador Carlos Wilson, do brigadeiro da
reserva J. Carlos Pereira e do ex-deputado Sérgio Gaudenzi, assume o
brigadeiro-do-ar Cleonilson Nicácio Silva, que era diretor de Operações e deverá ser substituído aí pelo
major-brigadeiro também da ativa
Aprígio Eduardo de Moura Azevedo, chefe de gabinete do Comando
da Aeronáutica.
Com férias, Natal e Ano Novo, o
governo não quis improvisar. Pôs
de lado questões filosóficas e optou
por técnicos que conhecem o setor
-que são os militares, porque os civis não souberam ocupar o vácuo.
De certa forma, uma derrota.
O ideal é desmilitarizar as áreas
políticas e despolitizar as áreas essencialmente técnicas. Na aviação,
os militares foram formados e estão
lá há décadas. A troca tem que ser
lenta, gradual e segura, como a própria passagem do poder político dos
militares para os civis há 20 anos.
Até porque o que está em jogo, com
aviões, pistas e vôos, são vidas humanas. De militares e de civis.
elianec@uol.com.br
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