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CLÓVIS ROSSI
Quem preside, Lula ou Meirelles?
SÃO PAULO - De Luiz Inácio Lula
da Silva, em mais uma das cerimônias-comício em que é especializado, no dia 2, em Recife:
"Todo mundo sabe que temos
uma taxa de juros acima daquilo
que o bom senso indica que deveríamos ter".
Cabe explicar ao leitor distraído
que Luiz Inácio Lula da Silva vem a
ser o presidente da República, eleito em 2002 e reeleito em 2006.
Nessa condição, cabe a ele indicar
todos os ministros e também o presidente do Banco Central, a instituição que estabelece a taxa de juros que está "acima daquilo que o
bom senso indica".
Em um país normal, quem faz o
que o chefe acha "insensatez" é demitido liminarmente, sem direito a
indenização.
Aliás, esta Folha publica mensalmente, faz um bocado de tempo,
um texto que, com pequenas variações, afirma que "Lula pressiona
Banco Central por queda na taxa de
juros" (foi o título mais recente da
série, dia 4). Periodicamente, o BC
dá uma solene banana às "pressões" de Lula -e não acontece nada. Nem Lula renuncia por ser desautorizado por um subordinado,
nem demite o presidente do banco.
Ainda por cima, vem a corrente
majoritária do PT, supostamente o
partido do governo, e ataca frontalmente o BC como "último bastião
da ortodoxia", como se o presidente do BC tivesse dado um golpe e se
sentado na marra na cadeira, em
vez de ter sido nomeado por Lula
(aliás presidente de honra do PT) e
por ele mantido no cargo por seis
anos, mesmo sendo supostamente
tão desobediente e "insensato".
Seria tudo muito ridículo não
fosse o seguinte fato da vida: Lula
terceirizou a política econômica
para Meirelles, que faz o que bem
entende com os juros. Foi a maneira que encontrou de acalmar as piranhas do mercado financeiro, as
únicas que podem desestabilizar
um governo que não lhes dê o sangue que pedem insaciavelmente.
crossi@uol.com.br
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