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FERNANDO CANZIAN
Davos 10 x 0 Porto Alegre?
SÃO PAULO - Recomenda-se prestar muita atenção ao que vai acontecer
entre os dias 25 e 30 deste mês em
Porto Alegre durante as discussões do
primeiro Fórum Social Mundial.
Para quem não ouviu falar, será
uma reunião de centenas de pessoas,
políticos e intelectuais contrários ao
status quo da globalização. A data
escolhida é a mesma do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, onde os pró-capitalismo globalizante se reúnem desde 1971 para afinar discursos e políticas.
O chamamento de Porto Alegre se
destina a "todos os que se contrapõem às políticas neoliberais e à dominação dos mercados". São esperados de Ralph Nader, candidato derrotado do Partido Verde dos EUA, a
João Pedro Stedile, líder do MST no
Brasil. Será o evento do ano da chamada "esquerda" e pretende ser
anual, um espelho a Davos.
O contraponto é importante e necessário. É evidente que a globalização está ampliando mais do que
nunca o fosso entre pobres e ricos.
Mas, sinceramente, o que eles terão
a dizer? O que vão propor de prático?
Levando-se em conta que o capitalismo não apenas está vencendo, mas
dando de goleada, e que a lógica do
mundo está sedimentada no mercado, os discursos que o condenam estão se tornando tão ácidos quanto
vazios. Será diferente desta vez?
A impressão que dá é a de que enquanto os críticos do capitalismo e
da globalização não empregarem
uma técnica semelhante à do judô,
usando a força do adversário para
desestabilizá-lo, os discursos jamais
irão além do que têm sido: discursos.
É incompreensível, por exemplo,
que esses mesmos críticos não se organizem mais para recomendar a
consumidores que não comprem
produtos de empresas que poluem,
que pagam salários vis ou que exploram criancinhas mundo afora. Ou
que investidores médios, principalmente no Primeiro Mundo, se desfaçam de ações de empresas na mesma
situação.
Das duas, uma: falar é mais fácil, e
entoa-se o "pseudo-academicismo"
de sempre, ou não deixemos de prestar maior atenção ainda ao que
ocorrerá exatamente em Davos.
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