São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Uma bobagem histórica

SÃO PAULO - Quando eu era criança, nos anos 70, as escolas de São Paulo ensinavam a Revolução de 1932, a guerra da elite paulista contra a incipiente ditadura de Getúlio Vargas. Nove de Julho, dia da eclosão da revolta, é feriado no Estado.
Ensinavam o que era o movimento MMDC (Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo, rapazes mortos em protesto pró-Constituinte) e sentimentalices. O enfoque era paulista-nacionalista, provinciano, fruto ainda da influência da comunhão da velha elite paulista.
Na ditadura, nos perfilavam em atitude militar para ouvir o Hino Nacional. Havia aulas fascistinhas de "moral e cívica". Cada época tem sua mania ideológica e horror didático. Na educação de agora, há a praga submarxista, o pedagogismo esquerdóide e, agora, uma bobagem politicamente correta que é lei.
Ficou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras. Lula da Silva ainda teve certo bom senso ao vetar a parte da lei que reservava 10% do ensino de história e artes para "temática negra". 10%? 10% do quê? 10% parece gorjeta.
Não há curso de história, a não ser os intelectual e moralmente cretinos, que já não ensine história dos negros. Ou de índios, italianos, (15% dos brasileiros têm origens na Itália), cafuzos. Precisa de curso específico?
Nosso racismo é vasto, negros ganham menos, morrem cedo. O preconceito é ensinado, da casa-grande à escola. Não se trata de tema trivial. Mas a educação melhora com a lei?
O ensino sobre índios é burro, estigmatizante ("eles" nos deram rede, mandioca e banhos diários, como dizia meu livro didático), o de história é marxóide-esquemático.
As crianças não sabem ler bilhetes e somar após quatro anos de aulas. Não têm informação para refletir decentemente sobre nada, pois em vez de aprender algo são treinados para ser "sujeitos críticos da construção do conhecimento" (pfui), diz o pedagogês. Há o risco de o politicamente correto levar à doutrinação desmiolada de cabeças vazias.



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