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CLÓVIS ROSSI
Stalingrado do pudor
SÃO PAULO - O Congresso não
perdeu de vez a vergonha e o contato com a realidade, a julgar pela
comparação que o presidente da
Câmara, Aldo Rebelo, faz entre sua
disputa com o petista Arlindo Chinaglia e a batalha de Stalingrado.
É patético, para não dizer coisa
bem pior, que se utilize um evento
épico da história universal, como a
batalha em que a então União Soviética derrotou os invasores alemães (1942/43),nessa briguinha
sem-vergonha pelo comando da
Câmara Federal.
Não há nada de épico nesta, nada
que se assemelhe a um episódio histórico, ainda que de alcance puramente nacional, nada que lembre,
ao menos remotamente, uma disputa em torno de idéias, princípios,
projetos, interesse do país.
É só guerra por cargos, vantagens
políticas decorrentes, egos inflados,
interesse partidário ou, pior, pessoal. Nada além disso. Nenhum dos
candidatos disse até agora o que vai
fazer, se eleito, para o aperfeiçoamento do Legislativo, para restaurar ao menos parte da credibilidade
afetada pela catarata de escândalos,
para contribuir com idéias/projetos para o desenvolvimento da pobre pátria e assim por diante. Nada.
A "franciscana" política do "é
dando que se recebe" deixou de ser
feita nos bastidores, no escurinho
dos gabinetes, para ser anunciada
em entrevistas coletivas, despudoramente. Um cargo na mesa e facilidades na assembléia paulista compram o PSDB. A promessa de entregar a presidência ao PMDB, nos
dois anos finais da legislatura, compra esse que é o maior partido da
Casa.
Antigamente, lembra Gilberto
Dimenstein, os jornalistas que tivessem informações como as acima
teriam que usá-las como acusação,
após cuidadoso trabalho investigativo. Hoje, o conluio é público,
anunciado diante de câmeras de
TV.
É de fato uma Stalingrado: a vitória do despudor.
crossi@uol.com.br
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