São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

A pátria e a morte

RIO DE JANEIRO - Durante muitos anos da minha infância, eu não entendia o brado retumbante que aprendi na escola: "Independência ou morte". A linha de ônibus que servia o Lins de Vasconcelos daquele tempo pertencia à Viação Independência Ltda. Eu olhava aqueles ônibus e não entendia por que a alternativa que eles me davam era a morte.
Quando estive em Cuba, o brado retumbante que Fidel Castro lançava aos ares do Caribe era: "Patria o muerte". Esse eu entendi de estalo: meses antes, o presidente Kennedy patrocinara a invasão da ilha na baía dos Porcos. O próprio Fidel, com água pela cintura e metralhadora na mão, atirava contra os invasores, arriscando a vida para defender a sua pátria e o seu regime.
Surge agora o Hugo Chávez, criando uma paráfrase do brado retumbante de dom Pedro 1º: "Patria, socialismo o muerte". A obsessão pela morte parece ser uma idéia fixa dos líderes messiânicos, certamente outros que não lembro agora também radicalizaram suas posições na base do tudo ou nada.
Ignoro se Saddam Hussein algum dia repetiu esse retumbante brado. O fato é que morreu deixando a cargo da história a última palavra a respeito de sua pátria e de sua morte. Fidel Castro foi mais feliz, não perdeu a pátria nem morreu.
Todos sabemos que Hugo Chávez procura copiar o comandante de Sierra Maestra no bem e no mal. Tem a vantagem das grandes jazidas de petróleo e pode fazer um estrago mundial. Saddam Hussein também tinha o petróleo, nem assim escapou da forca.
Não estou augurando uma forca para Chávez, embora o presidente Bush procure dar um jeito para se livrar do desafeto. A experiência com Saddam Hussein deve ter aumentado suas esperanças. Só então teremos a decisão venezuelana: Pátria ou morte.


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