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CARLOS HEITOR CONY
A pátria e a morte
RIO DE JANEIRO - Durante muitos anos da minha infância, eu não
entendia o brado retumbante que
aprendi na escola: "Independência
ou morte". A linha de ônibus que
servia o Lins de Vasconcelos daquele tempo pertencia à Viação Independência Ltda. Eu olhava aqueles
ônibus e não entendia por que a alternativa que eles me davam era a
morte.
Quando estive em Cuba, o brado
retumbante que Fidel Castro lançava aos ares do Caribe era: "Patria o
muerte". Esse eu entendi de estalo:
meses antes, o presidente Kennedy
patrocinara a invasão da ilha na
baía dos Porcos. O próprio Fidel,
com água pela cintura e metralhadora na mão, atirava contra os invasores, arriscando a vida para defender a sua pátria e o seu regime.
Surge agora o Hugo Chávez,
criando uma paráfrase do brado retumbante de dom Pedro 1º: "Patria,
socialismo o muerte". A obsessão
pela morte parece ser uma idéia fixa
dos líderes messiânicos, certamente outros que não lembro agora
também radicalizaram suas posições na base do tudo ou nada.
Ignoro se Saddam Hussein algum
dia repetiu esse retumbante brado.
O fato é que morreu deixando a cargo da história a última palavra a respeito de sua pátria e de sua morte.
Fidel Castro foi mais feliz, não perdeu a pátria nem morreu.
Todos sabemos que Hugo Chávez
procura copiar o comandante de
Sierra Maestra no bem e no mal.
Tem a vantagem das grandes jazidas de petróleo e pode fazer um estrago mundial. Saddam Hussein
também tinha o petróleo, nem assim escapou da forca.
Não estou augurando uma forca
para Chávez, embora o presidente
Bush procure dar um jeito para se
livrar do desafeto. A experiência
com Saddam Hussein deve ter aumentado suas esperanças. Só então
teremos a decisão venezuelana: Pátria ou morte.
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