|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO GABEIRA
Chuvas de verão
NOS VERSOS da canção, são
passageiras como os ressentimentos. Apesar disso,
as chuvas de verão, presentes em
nossa poesia e indicando a repetição mecânica da natureza, elas nos
enganam. Nunca serão as mesmas.
Neste ano, por exemplo, estão
dois fenômenos: um permanente,
o aquecimento global, outro periódico, o El Niño. Uma das minhas
dívidas com o aquecimento global
foi não ter enfatizado que suas conseqüências já se manifestam agora,
logo, é preciso adaptar, progressivamente, nossas cidades e também
o campo.
Trabalhei esse tema em Petrópolis, onde defendi, em algumas palestras, um projeto de adaptação da
cidade às mudanças climáticas. Em
2004, foi possível divulgar os planos de sustentabilidade de algumas cidades. O de Seattle é para ser
desenvolvido em 20 anos.
Quanto a El Niño, houve, no
Congresso, uma comissão para estudar o tema, e foi produzido um
relatório com muitas sugestões. No
entanto, não me antecipei a El Niño pedindo que neste ano, pelo menos neste, não contigenciassem
verbas. Quando ele acontece, intensificam-se no Sudeste, e agrava
a seca no Nordeste. Faltou dinheiro para a água. Poderíamos ter
previsto.
Muito menos pude indicar esta
nova inflexão na abordagem do
aquecimento global, centrada apenas na redução de emissões. As
conseqüências já estão aí, logo, é
preciso se preparar para elas.
O descuido com a conjugação
dos dois fenômenos só se justifica
pelo duro fim de 2006 -da crise
aérea ao aumento salarial no Congresso.
Sonho com superar logo esse
permanente estado de crise para
poder planejar e olhar alguns passos adiante. Se isso não for possível, será preciso aprender a planejar, apesar das crises. É pau, é
pedra.
As mudanças climáticas são também um problema democrático.
Nova Orleans foi um exemplo, a
carga maior sobre os mais pobres.
Nesse momento, quem está se
movendo é a Europa, por meio de
seu plano diante do aquecimento
global. A idéia é de inspirar uma
nova revolução industrial. Essa nova economia, acredito, deveria dar
uma grande importância à energia
solar. Solar num sentido mais amplo, incluindo biocombustíveis.
Para o Brasil, o aquecimento não
pode ser visto apenas como um
castigo mas também como uma
possibilidade. Não posso descuidar
dele em 2007.
Comecei escrevendo quinzenalmente, agora por semana.
Quando estiver escrevendo diariamente, favor avisar se não estou
exagerando.
gabeira@netbotanic.com.br
FERNANDO GABEIRA passa a escrever aos sábados
nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A pátria e a morte Próximo Texto: Frases
Índice
|