São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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RUY CASTRO

Paranoia em 3D

RIO DE JANEIRO - Há oito anos, no auge da paranoia pós-11 de Setembro, apertei sem querer o botão de "emergência" no raio X do aeroporto de Roma. As campainhas dispararam e, antes que eu próprio me recobrasse do susto, 15 "carabinieri" foragidos do filme "Pão, Amor e Fantasia" caíram em cima. Não era nada, claro, exceto mais um turista pateta. No caso, eu. E, como isso estava acontecendo 20 vezes por dia, limitaram-se a uma bronca geral dirigida à incompetência humana e me disseram: "Avanti!".
Hoje vejo que dei sorte. Fosse em Londres e poderia ter sido fuzilado preventivamente pelas costas, como fez a Scotland Yard com o pobre brasileiro Jean Charles. E, fosse em Nova York, talvez estivesse até agora em Guantánamo, sofrendo afogamentos com assistência médica ou a tortura de ouvir Bob Dylan o dia inteiro.
As recentes ameaças terroristas vão recrudescer de novo a vigilância nos aeroportos. Os ingleses anunciam a instalação de scanners 3D de corpo inteiro para examinar passageiros oriundos de lugares suspeitos, leia-se África, Oriente Médio e América do Sul ou Central. São máquinas capazes de captar desde um piercing no tímpano ou uma obturação a ouro no último molar até o explosivo mais sub-reptício. Além de deixar o passageiro ou passageira nu no monitor.
A grita já começou, e com razão. Consulte seus documentos e confira -sua foto no passaporte é a maior prova de que você está precisando viajar. Pelado na telinha, então, nem se fala. Isso não será constrangedor para os passados de certa idade ou que não se julgam suficientemente belos? Os famosos se submeterão? E quem garante que, em pouco tempo, tais imagens não estarão na internet?
Pelo menos para uma coisa esses scanners servirão: para dirimir de vez a dúvida sobre se existe ou não o ponto G.


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