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RUY CASTRO
Paranoia em 3D
RIO DE JANEIRO - Há oito anos,
no auge da paranoia pós-11 de Setembro, apertei sem querer o botão
de "emergência" no raio X do aeroporto de Roma. As campainhas dispararam e, antes que eu próprio me
recobrasse do susto, 15 "carabinieri" foragidos do filme "Pão, Amor e
Fantasia" caíram em cima. Não era
nada, claro, exceto mais um turista
pateta. No caso, eu. E, como isso estava acontecendo 20 vezes por dia,
limitaram-se a uma bronca geral dirigida à incompetência humana e
me disseram: "Avanti!".
Hoje vejo que dei sorte. Fosse em
Londres e poderia ter sido fuzilado
preventivamente pelas costas, como fez a Scotland Yard com o pobre
brasileiro Jean Charles. E, fosse em
Nova York, talvez estivesse até agora em Guantánamo, sofrendo afogamentos com assistência médica
ou a tortura de ouvir Bob Dylan o
dia inteiro.
As recentes ameaças terroristas
vão recrudescer de novo a vigilância
nos aeroportos. Os ingleses anunciam a instalação de scanners 3D de
corpo inteiro para examinar passageiros oriundos de lugares suspeitos, leia-se África, Oriente Médio e
América do Sul ou Central. São máquinas capazes de captar desde um
piercing no tímpano ou uma obturação a ouro no último molar até o
explosivo mais sub-reptício. Além
de deixar o passageiro ou passageira nu no monitor.
A grita já começou, e com razão.
Consulte seus documentos e confira -sua foto no passaporte é a
maior prova de que você está precisando viajar. Pelado na telinha, então, nem se fala. Isso não será constrangedor para os passados de certa
idade ou que não se julgam suficientemente belos? Os famosos se
submeterão? E quem garante que,
em pouco tempo, tais imagens não
estarão na internet?
Pelo menos para uma coisa esses
scanners servirão: para dirimir de
vez a dúvida sobre se existe ou não
o ponto G.
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