São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

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Haiti, ano um

É desolador o cenário no Haiti um ano depois do terremoto que devastou o país. Cerca de 1 milhão de pessoas ainda vivem em barracas e abrigos improvisados. O controle da violência e a estabilidade política, principais conquistas das forças de paz da ONU e das entidades de ajuda humanitária, esmaeceram nos últimos meses, com a eclosão da epidemia de cólera, o aumento de focos de conflitos e a incerteza sobre as eleições ainda em curso.
A tragédia reduziu a escombros o país que já era o mais pobre das Américas. Deixou em torno de 230 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados. Boa parte da cúpula do poder, e com ela o chefe da missão das Nações Unidas, morreu, assim como cerca de 20% dos funcionários públicos. Nesse quadro, os esforços de construção de instituições, ainda incipientes, tiveram de recomeçar quase do zero.
Mas só a magnitude da tragédia não explica o acúmulo de problemas. O cólera, que já matou cerca de 4.000 e infectou 150 mil, deve continuar a tirar vidas pelos próximos anos, apesar de ser uma doença de fácil detecção e tratamento simples. E os desabrigados ainda devem somar 650 mil pessoas ao final de 2011.
As eleições realizadas no final do ano estão sob suspeita. Depois de reiteradas acusações de fraude e de uma recontagem ainda não divulgada por vias oficiais, não se sabe ao certo quem serão os candidatos no segundo turno.
A cacofonia de boas intenções, com ONGs que não coordenam adequadamente os esforços entre si e tampouco com o governo local, contribui para a sensação de impotência. Dos US$ 5,3 bilhões prometidos por doadores, apenas US$ 1,2 bilhão foi alocado em projetos de reconstrução. A maior parcela do dinheiro, no entanto, segue retida, por temores de corrupção e de instabilidade.
Nesse contexto, a permanência brasileira no Haiti reveste-se de maior importância. Desde 2004, o Brasil comanda a operação militar da Minustah, a missão da ONU no país. A força conseguiu a pacificação das favelas e desempenhou papel relevante nos momentos pós-terremoto, apesar de disputas pueris com os norte-americanos.
A presença das Nações Unidas é percebida por setores da população como uma força de ocupação, na esteira da queda do presidente Aristide. Mas os avanços dos últimos anos revelam que a maioria dos haitianos compreende o caráter humanitário da operação. É necessário estipular um horizonte, no longo prazo, para uma retirada, mas o Brasil, depois do empenho dos últimos anos, deve manter seu compromisso.


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